“Este evento é uma experiência concreta do princípio de coopetição”. A frase, da autoria do fundador e CEO da Forum Estudante, Rui Marques, foi proferida no momento de acolhimento dos participantes da 10.º edição do G-icom, em Peniche. Ao longo dos próximos dois dias, cerca de 100 profissionais de comunicação de instituições de ensino superior de todo o país vão trabalhar em conjunto, partilhando experiências e boas práticas. “É possível perceber que, entre entidades que também competem, há um espaço enorme de colaboração”, sublinhou Rui Marques, destacando, nesse sentido, a criação de “redes colaborativas de base informal”.

A 10.ª edição do G-icom realiza-se na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria (ESTM/IPL) - uma instituição que, recordou Rui Marques, tem uma longa ligação com a Forum Estudante, ao ser promotora da primeira Academia Forum, em 2010, que se prepara, este ano, para ter a sua 13.ª edição. “Agradeço a vossa presença e desejo-vos bom trabalho para estes dois dias”, disse o Diretor da ESTM, Sérgio Leandro, dirigindo-se aos participantes na abertura dos trabalhos, salientando como a área da comunicação é “importante para valorizar o trabalho das instituições de ensino superior”. 

 

 

 

Em 2023, o foco dos trabalhos do G-icom estará nas “Tecnologias 4.0 e o seu impacto na comunicação das instituições de ensino superior”. De acordo com o programa do evento, esta escolha tem por base “a disseminação de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) por todas as áreas da vida das sociedades”, a par da introdução de “realidades paralelas, como o Metaverso”. Este contexto coloca ao Ensino Superior “oportunidades e ameaças significativas para a criação de valor”, acrescenta o programa.


Comunidades de ensino secundário 4.0? 

Na abertura dos trabalhos, a Forum Estudante começou por apresentar um estudo de opinião que detalha as principais expectativas e necessidades das comunidades de ensino secundário e profissional, no que diz respeito à dimensão tecnológica de uma instituição de ensino superior. 

O estudo incluiu um inquérito a cerca de 200 pessoas da comunidade educativa da Batalha, em Leiria, integrando alunos, encarregados de educação e professores de ensino secundário. Realizado pelo professor do Agrupamento de Escolas da Batalha, Marco Neves e pelo especialista com experiência em estudos de mercado na área de Novas Tecnologias e Media, Carlos Liz, o trabalho é dividido em três blocos a que correspondem três objetivos: aferir a perceção do conhecimento das temáticas digitais, avaliar a perceção de qualidade da comunicação das IES e compreender qual a importância da dimensão tecnológica enquanto critério de escolha de uma instituição de ensino superior. 

 

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Para além de concluir que o conceito de inteligência artificial tem, neste momento, junto da amostra, uma maior implementação do que o de metaverso, o estudo realizado diagnostica ainda uma auto-perceção de níveis “modestos” de literacia digital. 

Já relativamente aos critérios de escolha de uma instituição de ensino superior, sublinhou Carlos Liz, o estudo realizado conclui que “o tema das tecnologias digitais faz parte dessa equação”, fazendo parte de um conjunto complexo de critérios que integra elementos como o papel da instituição na criação de horizontes profissionais e do papel a ocupar na sociedade. “82% dos professores transmitem aos seus alunos a importância das tecnologias como critério de escolha de uma instituição de ensino superior”, destacou Marco Neves, salientando ainda que apenas um número residual de estudantes não considera este um critério importante. 

 


«A questão não se resume à integração das tecnologias do método do ensino-aprendizagem, sendo também relevante pensar o impacto nas estratégias pedagógicas»

 

Outro dos blocos do estudo com especial interesse para a audiência do G-icom diz respeito à perceção da eficácia de comunicação das instituições de ensino superior com comunidades do ensino secundário. “Não é suficiente claro que exista uma eficácia comunicacional suficientemente expressiva [para os inquiridos], tendo em conta a importância do tema para os segmentos da amostra”, explicou Carlos Liz. 

Por fim, foi possível concluir que os vários segmentos da comunidade educativa contam com as tecnologias 4.0 como uma forma de melhorar a qualidade da educação. “A questão não se resume à integração das tecnologias do método do ensino-aprendizagem, sendo também relevante pensar o impacto nas estratégias pedagógicas”, realçou Marco Neves. 

 

Tecnologia na Educação

A manhã do primeiro dia de trabalho do G-icom continuou com uma apresentação sobre como tecnologias como a Inteligência Artificial ou o Metaverso estão a transformar as dinâmicas sociais, económicas e culturais. Falando sobre o Metaverso, o Diretor de Marketing da KIT-AR, Luís Martins, que trabalha com realidade aumentada desde 2014, destacou esta área como tendo “uma capacidade de crescimento brutal, que coloca uma grande oportunidade ao nosso país”.

 

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Na base deste entendimento, explicou Luís Martins, está o facto de o 3D ser um formato com implementação crescente, sobretudo nas gerações mais jovens. As tecnologias de realidade virtual e realidade aumentada, por sua vez, não são uma realidade apenas nos videojogos, marcando presença em várias tecnologias utilizadas no quotidiano, como na criação de filtros em diversas aplicações. "O 3D já é uma realidade, não é o futuro nem o presente, é o passado", reforçou, destacando como estas tecnologias "que transformam a nossa forma de interação com objetos, espaços e pessoas devem ser integradas nos espaços de aprendizagem".

Outra das oportunidades para a educação, explicou, passa pela criação de "objetos digitais significativos que podem gerar dinâmicas de gamificação ou validação" de processos educativos, uma realidade que, acredita o especialista, pode ser alcançada através da tokenização, tendo por base tecnologias como a blockchain. A inteligência artificial, em específico, os chatbots, são outros dos recursos tecnológicos que, acredita Luís Martins, serão centrais no futuro da Educação, tal como a Computação Quântica e a Engenharia Biométrica. "O digital não é físico e nunca vai ser, mas a partir do momento em que tenho memórias partilhadas com outras pessoas, o digital também é real", concluiu. 

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Ainda durante a manhã, o CEO e fundador da empresa ReadyAI, Roozbeh Aliabadi, trouxe até ao G-icom uma apresentação sobre o papel que a Inteligência Artificial terá nas dinâmicas sociais e económicas. "O que temos hoje em dia, mesmo tendo em conta todo o entusiasmo em torno de soluções como o ChatGPT, é narrow AI [inteligência artificial "estreita"], que realizam tarefas muito específicas", explicou Aliabadi, salientando que não é possível saber se será possível alcançar "a singularidade", ou seja, o momoento em que a inteligência artificial ultrapassará a inteligência humana. 

De momento, a área da Inteligência Artificial "incorpora várias contradições", continuou o especialista, sobre as capacidades e limitações, por exemplo. Contudo, é possível ter a certeza que o futuro nos trará uma maior capacidade de computação com impacto em várias áreas, ao reduzir significativamente os tempos de execução e permitindo novas soluções no campo da análise de dados. No centro da inovação tecnológica, concluiu, deve estar sempre um elemento humano: "Devemos ter sempre em conta que a tecnologia tem como missão ser útil para os humanos. A Inteligência Artificial deve servir para sermos capacitados [empowered] e não dominados [overpowered]".