No total, 13 histórias passaram pelo estrado da Sala 2, no edifício da Fundação Calouste Gulbenkian. Um a um, os vários jovens que integraram diferentes modalidades do Programa Erasmus, nos últimos anos, partilharam com os presentes aquilo que consideraram mais marcante na sua experiência. 

Os testemunhos foram divididos em dois painéis, com sete estudantes estrangeiros a partilharem a experiência de vir para Portugal (incoming) e seis portugueses a relatarem os momentos mais marcantes da sua experiência no estrangeiro (outgoing).

Para alem das experiências de mobilidade no Ensino Superior, o elenco incluiu ainda jovens que fizeram experiências de voluntariado, ao abrigo do Serviço de Voluntariado Europeu.

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Para além desta sessão realizada em Lisboa, o evento teve ainda uma vertente nacional, com 33 sessões adicionais a serem realizadas em instituições de ensino superior espalhadas pelo país. Em todas elas, o mesmo objetivo: a partilha de quem participou no programa Erasmus, nas suas diferentes modalidades.

Na abertura da sessão, o Presidente da Agência Nacional Erasmus+ - Juventude em Ação, Luís Alves, destacou a importância desta partilha de experiência, criando “um espaço adequado à diversidade das experiências no programa”. Para além de uma retrospetiva, realçou, este encontro serve também para “fazer análises perspetivas e debater o futuro do programa”.

Também a Diretora da Agência Nacional Erasmus+ - Educação e Formação, Joana Mira Godinho, sublinhou a oportunidade de transformar esta partilha de experiências e ideias em recomendações europeias. Quanto à atuação do programa, ao longo destes 30 anos, realçou, este “contribuiu para fazer europeus”, auxiliando não só na “internacionalização do ensino superior, como também, hoje em dia, em todos os níveis de ensino – do ensino básico à educação de adultos”.

O que dizem os talkers?
A primeira parte das apresentações foi dedicada aos jovens estrangeiros que escolheram Portugal como país de destino, ao abrigo do programa Erasmus+. Desta forma, Itália, Espanha, Panamá, República Checa, Roménia ou Croácia são alguns dos exemplos de países de origem representados nesta fase.

O italiano David Gamberra, por exemplo, que fez Erasmus na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, descreve este programa como “a possibilidade descobrir novas culturas e abrir novas redes e horizontes profissionais no estrangeiro”.

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Alguns dos oradores que partilharam a sua experiência, no âmbito do Programa Erasmus

Por outro lado, como recordou o espanhol José Garcia, que chegou recentemente a Lisboa, ao abrigo do Serviço Voluntário Europeu, no terreno, este torna-se “mais do que um projeto de mobilidade”. “É uma forma de envolver toda a comunidade onde é desenvolvido o projeto”, reforçou.

As oportunidades de fomentar o desenvolvimento pessoal ou adquirir competências linguísticas foram também destacadas pelos intervenientes. Cliffton Clunie, panamenho de 27 anos que chegou ao Politécnico de Leiria ao abrigo do Erasmus Mundus, sublinhou igualmente a possibilidade de trazer a riqueza das suas origens ao país de destino: “tive a oportunidade de mostrar o que é o meu país”.

Para a romena Raluca Toma, por exemplo, o projeto de Voluntariado que fez ao abrigo do Eramus+ foi uma forma de aprender mais sobre Portugal e a língua portuguesa. Porém, mais importante, ressalvou, foi outra possibilidade: “aprendi a compreender-me e encontrei a importância da compaixão e das relações humanas nas nossas vidas”.

O testemunho de quem vai
Do lado dos estudantes portugueses que fizeram Erasmus pela Europa, Espanha, Polónia, França República Checa ou Itália foram alguns dos destinos incluídos.

Diogo Costa, por exemplo, de 23 anos, explicou a forma como o seu período de estágio em Maastricht contribuiu para a fundação da sua própria empresa. Durante o período de mobilidade, explicou, fez contactos “não só de amizades mas também contactos importantes para a vida profissional futura”.

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Outra das ideias mais destacadas diz respeito à coesão europeia garantida pelo projeto. Bárbara Loureiro, natural do Porto que fez Erasmus em Praga, destacou a forma como esta experiência a auxiliou a “descobrir a tolerância a saber viver com o próximo”, sentindo o projeto europeu “como uma força a que nos devemos unir”.

No mesmo sentido, Pedro Cintra, que fez Eramus em Barcelona, descreveu este programa como “um dínamo para uma União Europeia que está realmente unida e que pertence a todos”. Para além das competências adquiridas a nível da autonomia e da multiculturalidade, o jovem de 22 anos destacou a “capacidade de discernimento”: “hoje consigo perceber exatamente o que quero para o meu futuro e do que preciso de construir”.

“Para onde vamos?”
Para depois do almoço, ficou reservado um momento de perguntas e respostas com o Comissário Europeu da Educação, Cultura, Juventude e Desporto, Tibor Navracsics, em que participou o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.

Na sessão de boas-vindas o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, destacou que, “numa altura em que algumas vozes se levantam sobre a coerência e a validade do projeto europeu, o programa Erasmus é algo que devemos valorizar e muito”. Este programa, acrescentou, é um exemplo do tem sido feito “nesta europa comum” que se assume como “um projeto de paz e prosperidade”.

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João Paulo Rebelo (esq.), Joana Mira Godinho e Luís Alves, apresentaram a sessão de perguntas ao público

Sobre a interação com o público, o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, destacou este momento como “fundamental e uma pedra basilar” para que se decidam os próximos passos do programa. Recordando a sua própria experiência enquanto estudante Erasmus, em 1999, o ministro reforçou que, independentemente dos sucessos do passado, será importante responder à questão “para onde vamos?” e compreender “o que é que ainda falta dar à Europa”.

 

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Uma das questões levantadas relacionou-se com o valor de financiamento de programas de mobilidade. Sobre este tema, Tibor Navracsics garantiu que o valor da bolsa é indexado a fatores como o custo de vida no país de acolhimento. Ainda relativamente à questão das bolsas, Tiago Brandão Rodrigues ressalvou que a modalidade de financiamento tem uma índole complementar, para fazer face às diferenças de custo de vida nas várias cidades europeias.

No seguimento desta reflexão, foi colocada uma questão sobre a acessibilidade do programa para pessoas com menores condições financeiras. Neste âmbito, o Comissário Europeu garantiu que está em curso uma discussão interna sobre o aumento do investimento. “Gostaria que houvesse um maior investimento, de forma a chegar às pessoas que não são de áreas centrais nem de contextos sociais favorecidos”.

 

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Ainda sobre o financiamento, Tiago Brandão Rodrigues, recordou que o programa Erasmus “será a forma mais eficaz de trabalhar em prol da união europeia”. O ministro recordou o exemplo do Brexit e das consequências financeiras que esta decisão implicará, a médio e longo prazo. Por essa razão, reforçou, “qualquer investimento que a Europa como um todo decidir fazer, terá um retorno, também financeiro”.

As diferenças entre os sistemas de ensino dos países europeus, que muitas vezes constituem obstáculos aos estudantes em mobilidade internacional, levou a uma questão: "caminha a educação europeia no mesmo sentido?". Tibor Navracsics recordou o papel do Processo de Bolonha e destacou como "uma questão crítica" a ultrapassagem das dificuldades sentidas quanto às equivalências e à certificação internacional, através da unificação de diplomas e créditos. Também destacando a importância de garantir uma receção de qualidade aos estudantes, Tiago Brandão Rodrigues sublinhou que o Programa Erasmus "não é um programa de férias". "Isso implica a maior exigência possível, pessoal e institucional", concluiu.