“A Festa não acabou, está a evoluir”. É desta forma que a empresa de eventos Eventbrite contextualiza o fenómeno do soft clubbing, que descreve como “a nova vida noturna”. As diferenças são notórias – em vez de madrugadas passadas em discotecas com centenas de desconhecidos, o soft clubbing propõe festas em cafés à tarde, sessões de dança matinais ou até raves em saunas.
A mudança, acrescentam, é sobretudo concretizada pelas novas gerações, devido às suas características, uma vez que “61% da Geração Z quer beber menos álcool para dar prioridade a melhor sono, saúde mental e bem-estar físico”. De acordo com a plataforma da empresa – que registou 4,7 milhões de eventos em 2024 – há um aumento de 92% na quantidade deste tipo de eventos. As maiores subidas registam-se no Coffee Clubbing (478%), Festas de Dança Matinais (20%) e Encontros Termais (256%).
«[…] em vez de madrugadas passadas em discotecas com centenas de desconhecidos, o soft clubbingpropõe festas em cafés à tarde, sessões de dança matinais ou até raves em saunas»
“A Geração Z está a redefinir o significa ‘sair’”, explica a Especialista em Tendências da Eventbrite, Roseli LLano, antes de concluir: “Estão a escolher experiências que alimentam o corpo e a alma tanto quanto entretêm”.
Prioridade às conexões
O fenómeno foi noticiado em agosto deste ano pela revista Vice: “O soft clubbing é a tendência mais recente no mundo da vida noturna”. Destacando como estas festas são centradas “mais em saúde e o bem-estar do que em álcool e drogas”, a publicação norte-americana explica que o objetivo passa também por “procurar eventos mais baratos, dar prioridade a conexões autênticas e encontrar formas de sociabilizar mais seguras e acessíveis”.

De acordo com o portal The Portugal News, a tendência já terá chegado a Portugal. A publicaçãoportuguesa em língua inglesa escreve mesmo sobre “a revolução do soft clubbing de Lisboa”, fazendo referência ao evento Wake Up Club que, em 2025, teve três edições centradas neste conceito. A primeira, realizada em janeiro, decorreu entre as 8 e as 11 da manhã. “Digam adeus às ressacas e olá às conexões conscientes” é a frase de destaque na promoção do evento.
Para além das festas matinais ou raves termais (com banhos quentes ou gelados), o movimento é composto por outros eventos com conceitos inovadores. Um deles consiste em jogar xadrez ao pôr-do-sol e ao som de um DJ Set. Este é um exemplo de festas realizadas pelo Pieces Chess Club, uma organização fundada em Lisboa que se assume como “um clube de xadrez social” e que conta já com presença noutras cidades europeias.
«De acordo com aEventbrite – que registou 4,7 milhões de eventos na sua plataforma em 2024 – há um aumento de 92% na quantidade de eventos de soft clubbing»
Entre o cansaço e a poupança
Uma reportagem da revista New Yorker acompanha alguns eventos de soft clubbing, destacando como, em Nova Iorque, eles se realizam em cafés e até cabeleireiros. “[O soft clubbing] é o que acontece quando uma geração cresce com demasiados estímulos e burnout e quer a diversão sem o cansaço”, escreve a repórter Samantha Leal.
Num artigo de opinião assinado no jornal Público, Gonçalo Soeiro Ferreira oferece uma explicação alternativa para a mudança geracional – os constrangimentos económicos. Descrevendo os próprios eventos de soft clubbing como “absurdamente caros”, o analista de marketing de 23 anos destaca que “os jovens não deixaram de sair como antes da pandemia por capricho ou apenas por causa da internet”.

“O preço de uma casa ou de um quarto é uma piada. O preço das coisas é ridiculamente alto. A oferta da vida noturna é muitas vezes fraca e pouco inclusiva”, sublinha, antes de concluir: “E a ansiedade de carregar todo este mundo às costas retira-nos a vontade de o aproveitar”.






