Desde o seu lançamento, a série britânica Adolescência já foi visualizada por mais de 96 milhões de pessoas – 96, 7 milhões para sermos exatos. Estes números colocam Adolescência no conjunto das séries mais vistas de sempre da Netflix, na companhia de produções como Stranger Things que, na terceira temporada, somou 94,8 milhões de visualizações, e Bridgerton cuja segunda temporada registou 93,8 milhões de visualizações.
A série, de quatro episódios, todos com uma duração compreendida entre 50 e 65 minutos, foi escrita e criada por Jack Thorne e Stephen Graham, que também faz parte do elenco. Uma das características que diferencia a série é a maneira como todos os episódios foram filmados: em plano-sequência, ou seja, num só take.
A história (sem spoilers)
Sem revelar muito do que vais ver em Adolescência, damos-te a conhecer a premissa da série. A história acompanha o alegado esfaqueamento de Katie Leonard, do qual o principal suspeito é o seu colega Jamie Miller, bem como a investigação e as suas consequências para as famílias e colegas destes estudantes.
Em conversa com a publicação Radio Times, Stephen Graham falou sobre o que o motivou a escrever a série. “A ideia, para mim, surgiu quando houve um incidente em Liverpool com uma jovem rapariga a ser esfaqueada por um rapaz. Eu só pensei ‘porquê?’”, explicou o ator e guionista.
Ao longo dos quatro episódios, são explorados temas como os crimes com arma branca, uma tipologia onde, segundo o The Guardian, se regista um aumento de 240% de mortes entre os jovens. Por outro lado, a influência das redes sociais sobre os mais jovens, a masculinidade tóxica e a misoginia online são também alguns dos temas abordados.
Numa entrevista à BBC Radio 4, Jack Thorne partilhou que a personagem central é influenciada por “vozes como a de Andrew Tate e outras mais perigosas que este”. No mesmo programa, a atriz Erin Doherty, que na série interpreta uma psicóloga infantil, elogiou a “coragem” da série em falar sobre “um assunto muito atual” e disse esperar que este incentive a “um maior diálogo familiar”.
Jamie na sessão com a psicóloga. Foto: Netflix
O impacto fora dos ecrãs
Fora dos ecrãs, os produtores da série também querem fazer passar a sua mensagem. Jack Thorne já veio a público manifestar o desejo de que o governo britânico elabore uma lei que proíba o uso das redes sociais a menores de 16 anos.
Embora o The New York Times avance que semelhante lei não pareça estar nos planos do governo do Reino Unido, atualmente liderado pelo primeiro-ministro Keir Starmer, do Partido Trabalhista, a série já influenciou os trabalhos do parlamento britânico e do seu executivo. Numa reunião com os criadores da série, o primeiro-ministro britânico contou que viu Adolescência com os seus filhos e descreveu a sua experiência: “Enquanto pai, foi difícil”.
Keir Starmer referiu durante a reunião, em declarações reproduzidas pela BBC, que não há uma “política óbvia” para responder às questões levantadas pela série. O primeiro-ministro mencionou também a importância de trazer para o debate público questões como a misoginia, a violência de género e o acesso que as crianças, “particularmente os rapazes”, têm a esse tipo de conteúdos.
Para que o assunto possa ser discutido com os jovens, a série Adolescência será transmitida em todos os estabelecimentos de ensino secundário britânicos, numa medida apoiada pelo Governo. Com a série, também vão ser disponibilizados recursos e guias para professores, pais e cuidadores, para os ajudar nas discussões que se vão seguir ao visionamento, explica a Variety.
Na mesma reunião em que a iniciativa foi anunciada, o co-criador da série Jack Thorne disse que a série foi produzida “para gerar debate sobre como parar uma crise que continua a aumentar”. “Ter a oportunidade de levar a série para as escolas excede as nossas expectativas e esperamos que conduza a um debate entre professores e estudantes, mas sobretudo que leve os estudantes a conversar entre si”, concluiu.
