Criado por Tiago Maia, de 21 anos, o projeto  “Joga Simples” assume o objetivo de “agregar, num único site ou plataforma, o máximo de informações relevantes para a prática do desporto adaptado”. Através do contacto direto com as federações e associações desportivas, por telefone e formulário, o projeto ilustra, através de um mapa interativo, os clubes e as condições que estes têm para a prática de desporto adaptado.

“Sou apaixonado por desporto desde sempre”, afirma Tiago, no início da conversa com a FORUM. O jovem de 21 anos é natural da Póvoa de Santa Iria e vive com diplegia espástica, uma forma de paralisia cerebral. Era à base do desporto, com recurso a “cadernetas de cromos e revistas de futebolistas”, que o distraíam nas sessões de fisioterapias.

O surgimento do projeto “Joga Simples” cruza-se com a sua história. O uso mais regular da cadeira de rodas, “entre os 15 e 16 anos”, fez com que começasse a olhar mais para o desporto paralímpico, nomeadamente o desporto em cadeira de rodas, o qual acabou por o fascinar, admite.


 

O Projeto “Joga Simples” tem como objetivo agregar,  num único site ou plataforma, o máximo de informações relevantes para a prática do desporto adaptado”

 


 

Começou então a procurar um clube para poder praticar ténis em cadeira de rodas. “Foi um processo muito difícil e esse tempo ficou-me na cabeça”, descreve. As dificuldades fizeram com que Tiago percebesse “que havia algo em Portugal que não estava bem” e que “era necessário debelar algumas falhas”.

Tiago começou por identificar problemas como bases de dados desatualizadas, contendo informações de clubes que já não têm as modalidades ativas ou já não fazem prática de desporto adaptado, com informações incompletas, dificuldades de acesso a transporte ou materiais. O jovem acredita que, “é importante para todas as pessoas mapear quanto a condições de material, acessibilidade, conhecimentos/disponibilidade do treinador, nível de horário, disponibilidade de transporte”.

Como exemplo, Tiago refere o seu caso, em que, na procura por clube encontrou um que reunia todas as condições necessárias para que praticasse desporto. O problema: era em Setúbal. Isto implicaria deslocações de longa distância que iriam ser logisticamente complicadas, ao ser necessário conciliar os seus horários, bem como os do irmão e do pai.

 

 

A questão das deslocações é algo que também impacta os praticantes da modalidade em Portugal. Durante os contactos que efetuou, Tiago conseguiu perceber que “muitas entidades, acabam por se voluntariar para ir buscar o praticante e dar boleia, simplificando assim a logística”.

A persistência e apoios fundamentais

Ao perceber que “aquilo que há em Portugal ou está desatualizado ou está incompleto”, Tiago contou com o apoio de familiares e amigos para criar uma equipa de voluntários que definiu como “fundamental” para o funcionamento deste projeto.

Com a vontade de fazer diferente, começaram a pedir informações aos clubes para que estes preenchessem os formulários enviados, de forma a completar a informação em falta na base de dados. “Acreditamos mesmo que, se nos cederem todas as informações que pedimos, que vamos fazer a diferença”, defendeu.


 

«[...] é importante mapear as condições de material, acessibilidade, conhecimentos/disponibilidade do treinador, nível de horário, disponibilidade de transporte»

 


 

Já houve situações onde clubes partilharam a informação mais completa possível para que esta pudesse estar disponível no mapa interativo do Joga Simples. Neste momento, o projeto já conta com o apoio de 8 federações desportivas mais 15 entidades relacionadas com a deficiência e o desporto.

O projeto tem recebido uma ajuda importante de figuras do panorama do desporto paralímpico como Pedro Bártolo (basquetebol em cadeira de rodas) e Mário Trindade (atletismo), os quais Tiago vê como embaixadores do projeto. O alcance do projeto foi também aumentado graças à partilha por parte de páginas ou influencers com um papel mais ativista no direito das pessoas com deficiência, dando como exemplo Catarina Oliveira que tem mais de 40 mil seguidores na rede social Instagram.

A importância do feedback e objetivos futuros

O feedback que têm recebido, nesta fase inicial do projeto, tem-se revelado muito importante, destacando aspetos que há para melhorar, como a versão mobile do website ou a sua formatação, problema que tem vindo a ser resolvido.

As opiniões chegam mais de pessoas de círculos próximos como pais e amigos. Tiago soube por um conhecido, músico e maestro numa orquestra de pessoas com deficiência, que estavam a falar do projeto durante o ensaio. Descreveram-no como “uma coisa necessária”. Já tiveram também praticantes a contactá-los para que ajudassem e facilitassem a sua ligação com os clubes.

 

 

A longo prazo é esse o objetivo assumido pelo projeto. “Caso tenhamos fundos, gostaríamos imenso de simplificar todo o processo”, conta Tiago, antes de concluir: “se o clube não tiver material necessário, gostaríamos imenso de através do projeto ter capacidade para ceder esse material e a facilitar também no transporte que os atletas precisam”.