Yuran, Julinho KSD, Trista e Kibow compõem os Instinto 26. Foi em Mem Martins, no concelho de Sintra, que se conheceram. A partir daí, deram início a um projeto musical que hoje continua a fazer sucesso. Em conversa com a FORUM, o grupo conta-nos tudo sobre o seu trajeto, deixando algumas notas sobre o novo álbum que já está disponível!
Tendo em conta que são todos de Mem Martins, já se conheciam antes de criarem os Instinto 26?
Kibow – Sim, já nos conhecíamos. Eu joguei à bola com o Yuran no Mem Martins e joguei à bola com o Trista no 1.º Dezembro. E conheci o Julinho num estágio, ele estava a jogar pelo Vila Verde e eu estava a estagiar lá.
Como surgiu este vosso projeto musical?
Yuran - Isto é consequência de estarmos todos juntos, do nosso dia a dia. E expressarmos basicamente o que sentimos e o que vivemos nesta jornada toda até agora.
Quem são os Instinto 26?
Julinho KSD - São quatro putos sonhadores, neste caso eram quatro putos, agora eventualmente somos bué adultos, a maturidade não é a mesma. São quatro rapazes que estão em busca de muita qualidade de vida. Tudo aquilo que eventualmente os nossos pais passaram, nós não queremos passar e também não queremos deixar os nossos pais continuarem a passar o que passaram. Então estamos aqui para mudar a vida deles!
Porquê o nome “Instinto 26”?
Kibow - A palavra “instinto” sempre teve impacto para nós. Houve uma altura em que tínhamos o nome “Instinto”, mas a palavra só por si ainda não nos agradava. Então um dia em que estávamos no estúdio os quatro, o Yuran disse ao Trista e o Julinho para contarem as rastas deles. O Trista foi contar as rastas do Julinho, tinha 26 rastas. Depois, o Julinho contou as do Trista, também tinha 26 rastas. Portanto para nós, no momento, foi como um sinal.
Após o lançamento do grande hit do verão de 2019 "Sentimento Safari” pela voz do Julinho KSD, vocês continuaram a lançar músicas. Como é que viram na altura este sucesso e o que é que mudou deste então?
Julinho KSD – A nível individual, eu consigo ter uma experiência completamente diferente e eles também. Isto foi tudo à base do que fizemos em 2019, quando começámos em estúdio. Depois, vi que com essa experiência evoluímos bué. É por isso também a nossa maturidade ao longo desse tempo todo.
«Cada um de nós se inspira naquilo que tem como referência ou que eventualmente viu e que passou uma mensagem que ficou»
Kibow, membro dos Instinto 26
O que é que vos inspira para escreverem as vossas músicas?
Kibow - Basicamente é o que vivemos. É o nosso dia a dia, às vezes, se calhar, uma experiência mais fora da caixa talvez. Isso depois acaba por partir de cada um. Cada um de nós se inspira naquilo que tem como referência ou que eventualmente viu e que passou uma mensagem que ficou. Acaba por ser isso, a nossa inspiração. É uma mistura do que vivemos com o que ainda queremos viver. É um bocado o passado, o presente e o futuro.
Como é que funciona o vosso processo criativo e a vossa dinâmica em estúdio?
Julinho KSD - Temos diferentes maneiras de trabalhar. Ou estamos todos juntos, ou então o Kibow começa a fazer um som, passa o som para os restantes e cada um em casa acrescenta um bocadinho. Quando estamos os quatro juntos, a dinâmica é completamente diferente. É melhor porque conseguimos partilhar opiniões diferentes.
As ideias saem-vos naturalmente ou têm de passar várias horas no estúdio a trabalhar?
Julinho KSD – Sai bué naturalmente. Nós só seguimos aquilo que sai naturalmente. Se for bué exigente, quando estamos a bater bué crânio, passamos para a frente.
Yuran - Tudo pode acontecer de uma conversa, de uma piada, qualquer coisa que está ali pode surgir.
Kibow - Mas nós também não desperdiçamos muitos tiros (risos)!
Vocês definem-se como um grupo de música urbana, sendo o hip-hop um dos estilos presentes na vossa música. No entanto, em alguns singles podemos ver também influências de outros estilos, como por exemplo em “Ayan”. Podem explicar-nos um pouco mais sobre este vosso interesse por diferentes culturas e estilos e como é que trazem isto para a vossa música?
Yuran - No nosso grupo, já temos várias culturas. Eu de Moçambique, o Julinho de Cabo-Verde. E depois temos o Trista com um pai também angolano e o Kibow português. Todos vivemos na Linha de Sintra que é uma mistura de culturas. Vai desde o Kuduro ao Afro e nós absorvemos muito disso. Acabamos por transmitir isso na música.
Qual é a principal mensagem que tentam passar através da vossa música?
Kibow – Conseguimos sair do nada e temos alguma coisa. Temos um objetivo, conseguimos de certa forma arranjar condições para avançar nos nossos projetos de vida. Não estou a dizer que somos melhores ou piores que alguém, mas somos diferentes.
As vivências que tivemos, os sentimentos e as lutas para podermos andar, às vezes, só mais um passo! Mas tudo o que passámos e a força com que acreditámos nisto fez, a meu ver, com que as pessoas olhem para nós e pensem que é possível.
Recentemente lançaram o single “Priceless”, que conta com a participação especial do Ivandro. Qual é, para vocês, a importância de colaborar com outros artistas?
Yuran - O Ivandro também esteve sempre muito presente neste nosso processo, desde o “Sentimento Safari” e “Vivi Good”. Essas gravações também foram feitas com ele. E aí surge o “Priceless”, que é uma boa junção de tudo. Colaborar com outros artistas também é bom, partilhar também culturas, conhecermos tudo aquilo que se assemelha à nossa estética, àquilo que vivemos no dia a dia.
«Quando estamos os quatro juntos, a dinâmica é completamente diferente, até é melhor porque conseguimos partilhar opiniões diferentes»
Julinho KSD, membro dos Instinto 26
Qual é o impacto que este projeto tem nas vossas vidas?
Yuran - Crescimento, cada som é o fechar de um ciclo, cada projeto é o fechar de um ciclo, daquela fase que estávamos a viver. E é o virar de uma página, dá para passar para outra fase e assim também abrir novos horizontes.
Kbow - Eu acho que também é o plantar de uma semente. Lançar o projeto é dar uma nova vibração de nós, porque aquilo que vamos lançar é diferente do que já ouviram nosso. Eu nunca ouvi aquilo em lado nenhum, só mesmo no nosso estúdio.
O que é que podemos esperar daqui para a frente dos Instinto 26?
Julinho KSD – Bangers, bangers (risos)! Está a vir crescimento, tanto como grupo, como individualmente.
Yuran – A partir de 31 de maio já está disponível o álbum. Vão curtir, é o que eu posso dizer!
Quais as principais memórias que guardam do vosso tempo de estudantes?
Julinho KSD - Eu e o Trista jogávamos na mesma equipa [de futebol]. Apanhávamos sempre o mesmo comboio, tanto para ir para o treino, como para ir para casa. Estávamos na estação e o Trista decide sentar-se. Entretanto o comboio chega, entrámos no comboio e ele diz: “A minha chave? Deixei em cima do banco”. Voltámos para trás, apanhámos o comboio mesmo a seguir, era o ultimo comboio. Tivemos que voltar a pé e Portela de Sintra é tipo meia hora da minha casa (risos).
O que diriam a quem está a começar hoje uma carreira na música?
Julinho KSD - Nunca dependas de ninguém!
Kibow - Corre, corre muito, ninguém vai fazer mais por ti do que tu! Nem mais, nem melhor!