Magnum Soares é um jovem bailarino e ator que, atualmente, vive em Portugal. É 
freelancer em várias companhias de teatro e dança e aceitou partilhar um pouco da sua experiência com a FORUM. 

Sempre soubeste que ias seguir a área das artes? 

Fui descobrindo. Gosto também muito de ciências, e cheguei até a experimentar o futebol. Quase todos os rapazes passam pela fase do futebol e do desporto. Experimentei também artes marciais. Mas costumo dizer que a arte acabou por me escolher. Venho de uma cidade que tem muita cultura, principalmente barroca. Em qualquer canto, há um atelier com um escultor.

Fizeste toda a tua formação no Brasil? 

Vim para Portugal no fim de 2016, tinha 19 anos. Já tinha alguma formação, mas só em Portugal é que comecei a minha formação artística em dança e teatro, com a Olga Roriz, e foi aqui o meu contacto mais intenso com a dança contemporânea. Comecei a trabalhar profissionalmente mais a sério em Portugal.

Como era o Magnum enquanto aluno? 

Era um aluno bastante comunicativo, que tentava dar-se bem com todos os outros, mas que tinha também muita dificuldade em matemática e língua portuguesa. Parecia que a minha aptidão já estava mais virada para as artes. 

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Mas, na área das artes, consideras também que a formação é essencial? 

Sim, claro. Eu tenho um percurso mais prático do que académico e teórico. Desde cedo, tive a oportunidade de estar em contacto com profissionais da área, como artistas plásticos ou atores, que tinham já uma formação académica. Aprendi as belas artes e o teatro de marionetas mais com a prática. Quanto à dança, tive uma vertente mais teórica. Mas, no geral, o meu percurso foi mais prático do que teórico.

Aprender com os melhores, na tua área, é mais importante do que a teoria? 

Na verdade, tenho me perguntado isso no dia-a-dia. Penso que não há uma fórmula correta, ambas as vertentes são muito importantes. A prática traz-nos uma segurança, uma diversidade, uma qualidade e uma maturidade muito grandes. Quanto à teórica, também é importante entender o contexto, entender a história do teatro, da dança, as estéticas, as várias linguagens. Cada uma tem a sua importância e, quanto mais completa for a preparação em todas as áreas, melhor. Mas cada pessoa faz o seu percurso de acordo com o acesso à arte que pode ter.

Como é que é ser ator e bailarino em Portugal? 

Saí do Brasil bastante novo, então trabalhei pouco tempo lá. Tenho mais experiência aqui do que no Brasil, mas ainda estou a descobrir como é que é exercer a profissão em Portugal.

Quais têm sido as maiores dificuldades? 

Há bastantes dificuldades, mas há coisas muito boas também. Quanto a dificuldades, penso que a cultura é um setor que tem pouco investimento para a quantidade de pessoas que envolve. Existem várias áreas dentro do setor cultural e é um setor que merecia um cuidado, atenção e investimento proporcionais.


“O setor [artístico] depende de todas as faixas etárias, desde as crianças até aos mais velhos 


 Existem muitos jovens ligados à arte? 

Sempre houve a ideia de que o bailarino tem de ser jovem para dançar, que quando faz 30 ou 40 anos já não “presta”. Mas penso que o setor depende de todas as faixas etárias, desde as crianças até aos mais velhos. Estar em palco com alguém que tem o dobro da minha idade é uma aprendizagem enorme. Essa transmissão de saberes, para mim, é muito importante.

Que conselhos darias a jovens que gostariam de seguir a área? 

Penso que as pessoas devem seguir aquilo que sentem que faz sentido para si. Só assim conseguem ser pessoas realizadas, tanto profissional como pessoalmente. Por isso, não devem nunca desistir dos seus sonhos.


As pessoas devem seguir aquilo que sentem que faz sentido para si. Só assim conseguem ser pessoas realizadas, tanto profissional como pessoalmente


Como é que foi, para ti, passar pela fase de confinamento? 

Antes da pandemia já trabalhava com algumas companhias, então desde o fim de 2019 para 2020 que já tinha alguns espetáculos agendados. Quando começou a pandemia fechou tudo, por isso os espetáculos ficaram em stand-by. Nessa altura formei, juntamente com a minha companheira, uma associação cultural e começámos a criar os nossos próprios espetáculos de teatro de marionetas. Quando não houve oportunidades de fora estávamos nós a criar de dentro. Até ao momento em que as coisas voltaram e eu comecei a reativar os antigos contactos e receber novas oportunidades. A pandemia não me fez parar, continuei sempre em movimento.

Como é o teu dia-a-dia? 

Posso falar desta profissão no papel de um bailarino e ator freelancer, que está num contexto diferente dependendo do mês e da semana. Cada trabalho pede uma rotina diferente. No contexto em que estou, neste momento, saio do teatro às 23h, chego a casa à meia-noite, tento dormir o máximo que posso, acordo, tomo um bom pequeno-almoço, preparo tudo, revejo as deixas e o material. Chego aqui, alongo e preparo o corpo, organizo os objetos de cena e preparo-me para um possível espetáculo. Há outros contextos, há vezes em que estamos a conciliar com outras atividades, outros ensaios com espetáculos.

O que é que te faz levantar da cama de manhã? 

Continuar a seguir um caminho no sentido da minha realização pessoal, de um sonho profissional, e saber que aquilo que faço contribui, de alguma forma, para a sociedade. Basicamente, o que me faz levantar é a expectativa de que estamos a aproximar-nos, cada vez mais, de uma sociedade melhor e, pessoalmente, das minha conquistas pessoais, que me alimentam.