Raquel, de 29 anos e Miguel, de 35, mais conhecidos como “explorerssaurus” no mundo digital, são um casal de influenciadores digitais na área das viagens e lifesytle. A partir do momento em que se conheceram, uniram os seus interesses e começaram este projeto conjunto. Nas suas redes sociais, o casal mostra momentos das suas várias viagens, partilhando também com o público outros projetos de empreendedorismo relacionados. Em conversa com a FORUM, Raquel e Miguel contam tudo sobre a sua jornada e a forma como mudaram as suas vidas, inspirando os seus seguidores a lutarem pelos seus sonhos.   

Quando é que se conheceram e como é que começou a vossa história enquanto casal? 

Raquel: Viemos de backgrounds completamente diferentes. Eu estudei Engenharia Biomédica e o Miguel estudou Contabilidade e Gestão, mas já na altura a maior paixão do Miguel era fotografia. Nas viagens com os amigos, ele adicionava tubarões nas fotos que eles tiravam na piscina (risos). Já apagava pessoas das fotos deles de grupo. E a minha maior paixão já era viajar.  

Eu comecei a trabalhar a part time aos 15 anos, para ter dinheiro para viajar. Obviamente, sendo trabalhos de part time não dá para muito, então eu basicamente usava uma plataforma que se chamava “couchsurfing”, em que eu ficava a dormir em casa de outras pessoas. Os meus pais sempre foram incríveis porque sempre aceitaram pessoas em casa deles, também para eu conseguir fazer esta permuta. Então basicamente tinha sempre estadias gratuitas e depois aqui na Europa, entre autocarros e voos low cost, arranjava sempre forma de viajar muito sem gastar muito dinheiro. Os meus amigos até brincavam de ‘a Raquel vai viajar com dez euros, volta com cinquenta’ (risos), por eu ser muito poupada. 

Quando conheci o Miguel, tinha 22 anos, já tinha viajado por cerca de cinquenta países sozinha, de mochila às costas ou até a andar à boleia. Portanto, quando nos encontrámos, aliámos as nossas duas maiores paixões – eu viagens e o Miguel fotografia. Começámos a partilhar no Instagram as viagens que fazíamos juntos. Na altura, também começámos um blog de viagens e escrevíamos sobre as nossas viagens e dávamos dicas de viagens. Com o tempo, nunca conseguimos rentabilizar e monetizar o blog, então passado um ano e meio de começarmos, o foco total foi realmente o Instagram, a partir de dezembro de 2017.  

 

 

 

 

Porque é que decidiram criar uma conta de Instagram conjunta? 

Raquel: Como eu já viajava muito e tinha vários truques para poupar dinheiro, a minha mãe estava sempre a dizer-me “Raquel tu devias começar um blog onde partilhasses as tuas dicas de como viajas tanto com tão pouco dinheiro”. Só que, na altura, disse à minha mãe “eu nunca tiro fotografias, realmente gosto muito de escrever, mas num blog, além de texto, tens de ter imagens”. Depois, eu não acho que seja assim tão apelativo andar à boleia ou, às vezes, comer só uma sandes o dia todo, por não ter dinheiro para mais. Esta era sempre a desculpa que eu dava a mim mesma para não começar nada. Quando conheci o Miguel, a minha mãe foi a primeira a dizer “olha, mas agora o teu namorado tira fotos, se o teu problema era que não tinhas fotografias, agora já podem começar”.  

Quando o Miguel me conheceu eu ainda andava de trabalho precário em trabalho precário, ganhava muito mal. O Miguel já tinha um trabalho muito bem remunerado para Portugal e gostava de ficar em hotéis de cinco e quatro estrelas e eu dizia: “olha eu não consigo pagar isso”. Esta incompatibilidade também nos fez pensar que, se isto das redes sociais resultasse, íamos conseguir fazer parcerias com hotéis. Eu dizia ao Miguel “assim já dá para ficarmos nos sítios que tu queres ao custo que eu posso pagar”. Isto porque, na altura, nós já víamos outras pessoas lá fora a fazer disto vida, mas nós nem sabíamos ainda que era possível fazer dinheiro com as redes sociais. Na altura, não se falava da profissão influenciadores ou criadores de conteúdo. 

Depois de quatro meses de começarmos a namorar, ficámos numa relação à distância porque eu fui fazer Erasmus pela segunda vez para Espanha. E, na altura, também foi um bocadinho isso que nos levou a começar a partilhar a nossa jornada, porque em vez de o Miguel ir sempre visitar-me a Valência ou eu vir sempre visitar o Miguel ao Porto, combinámos uma vez por mês encontrar-nos um fim de semana numa cidade diferente. Estivemos juntos em Marraquexe, Barcelona, Veneza, Paris e depois eu regressei. Foi aí que também começámos a nossa conta de Instagram, a partilhar a nossa relação à distância e as viagens que fazíamos de fim de semana quando nos encontrávamos.  

Em janeiro de 2019, decidimos despedir-nos dos nossos trabalhos anteriores e partimos com um bilhete de ida para a Ásia – na altura, fomos para a Índia. Os dois juntos tínhamos conseguido poupar 13 mil euros e o nosso plano era ‘estes 13 mil euros têm que dar para viajarmos durante um ano’. Portanto, nós estávamos a viajar mesmo em low cost. O nosso plano era, durante esse ano, conseguirmos aumentar os nossos rendimentos ou passar a ter rendimentos mais estáveis. Nós já tínhamos algumas parcerias, mas eram pontuais aqui e ali. Nesse ano, começámos a tentar isto tudo das redes sociais, de trabalhar como criadores de conteúdos e deu certo, desde então nunca mais parámos.  


 

«Vamos sempre tentar influenciar ao máximo as pessoas a realmente começarem algo no Instagram, porque as possibilidades são infinitas. Nós conseguimos alcançar milhões de pessoas, sem ter que investir um único euro em publicidade, é realmente surreal»

 


 

Porquê o nome “explorerssaurus”?

Raquel: A primeira viagem que eu e o Miguel fizemos enquanto casal até foi a nossa viagem de despedida – antes de eu ir para Erasmus e ficarmos à distância. Fomos a Bali, na altura não havia nem Instagram nem fotos de nada, fomos só mesmo para estarmos os dois juntos. E fomos a uma praia que tem uma formação rochosa com a forma de um dinossauro. Apesar de ser uma praia linda de morrer, o acesso é muito complicado. Tens de ir por uma ravina abaixo, é muito perigoso, nós demorámos cerca de 40 minutos para conseguir chegar lá abaixo. Quando chegámos, o Miguel disse “foi a primeira vez que me senti um explorador”. E isto também está relacionado com o facto de nós termos estilos de viagem muito diferentes. Enquanto isto para mim era um dia normal, o Miguel fazia as viagens de tudo incluído num hotel, pouco saía. Então juntámos estas duas coisas e ficou “explorerssaurus”. 

Eu acho que as pessoas às vezes ainda pensam que o Instagram é só para influenciadores, mas não, de todo. Quer sejas enfermeira, médica, advogada, contabilista, se tu criares a tua própria marca pessoal nas redes sociais, seja no Instagram, Twitter, YouTube ou TikTok, é uma vantagem gigante em relação a outros colegas com as mesmas profissões, cargos, serviços ou negócios, que não tenham uma presença no digital. Portanto, vamos sempre tentar influenciar ao máximo as pessoas a realmente começarem algo no Instagram, porque as possibilidades são infinitas. Nós conseguimos alcançar milhões de pessoas, sem ter que investir um único euro em publicidade, é realmente surreal.  

Entretanto, abriram o vosso próprio hotel em Bali, na Indonésia. Como é que surgiu a ideia para a criação do hotel? E porquê Bali?

Raquel: Isso teve a ver com os nossos sócios. Ela é da Alemanha e ele é da Austrália. Então, eles queriam arranjar um sítio a meio termo para se encontrarem e, para eles, a sua casa era Bali. Quando nós começámos a trabalhar juntos, grande parte do trabalho que fazíamos era facilmente à distância através de videochamadas. Mas começámos a passar também muito mais tempo juntos [presencialmente] para trabalharmos, passámos até bastante tempo em Portugal, mas a maioria do tempo com eles foi em Bali. Depois, como nós tínhamos a academia e os cursos online com eles, numa das nossas conversas pensámos “era giro termos um espaço onde, um dia, pudéssemos fazer cursos presenciais e fazer retiros”. Na altura, surgiu a oportunidade de comprarmos o terreno lá [em Bali] e construímos o “Belajar Bali” a pensar que ia ser só um espaço para retiros. Já a meio do projeto, vimos que aquilo estava tão bonito que ia ser quase um desperdício ser só para retiros e que podia ser alugado diariamente. Então transformou-se num boutique hotel e num espaço também para quem quiser realizar retiros. Já fizemos o nosso primeiro retiro com alunos nossos e foi uma experiência gira de contactar com as pessoas na vida real. Claro que no ecrã vemos muitos números, gostos, comentários e seguidores, mas o contacto humano é sempre diferente. Quando tu vês os números traduzidos num abraço é sempre diferente. 

 

 

 

 

Qual foi a viagem que mais vos marcou até hoje?

Miguel: Para mim, foi a nossa primeira viagem a Bali. 

Raquel: Eu acho que vou dizer a nossa primeira viagem depois de desistirmos dos nossos trabalhos, que foi à Índia. Passámos quase um mês na Índia e foi realmente muito intenso, porque na altura não sabíamos se isto ia dar certo ou não. O nosso orçamento era muito limitado, eu estava a reservar hotéis que era tipo três noites, quatro euros e, pronto, as condições eram péssimas. Na altura, aquilo mexeu muito com o Miguel e acho que também foi um ponto de viragem para nós, para eu perceber realmente as necessidades do Miguel. Ele só me dizia “se tu queres que eu trabalhe temos de ter pelo menos uma casa de banho privativa e uma secretária”. E esta foi a fase para eu mudar um bocadinho o meu mindset em relação ao dinheiro e investir em certas coisas. O que o Miguel me estava a pedir era o mínimo de conforto. E eu tinha este mindset de ser tão poupada que, muitas vezes, para poupar meia dúzia de trocos punha em causa o nosso conforto e a nossa produtividade a dois. 

Voltavam pela segunda vez a algum destino?

Raquel: Acho que todos. Todos os destinos nos trouxeram algo, ou pela beleza natural ou pela cultura, ou pelas pessoas que conhecemos. Aliás, nós temos feito precisamente isso, temos retornado a muitos dos países que visitámos, às vezes, até para visitar outras cidades ou vilas onde não tivéssemos estado.  

Dependendo do destino, como é que se preparam para uma viagem? 

Raquel: Eu acho que a primeira coisa que toda a gente deve ter é seguro de viagens, porque nós achamos sempre que nunca vai acontecer nada. Espero que não aconteça, mas eu prefiro ter seguro e não utilizar do que, quando acontece qualquer percalço, não ter. Depois, dependendo dos destinos, pode ser importante ou não fazer consulta de viajante, às vezes são necessárias vacinas ou repelentes de mosquitos especiais, o que seja, profilaxia para a malária, portanto a primeira coisa é assegurar que em termos de saúde está tudo bem. Depois, eu recomendo sempre fazerem pesquisa sobre os sítios que querem visitar, colocar tudo no mapa para depois conseguirem fazer um roteiro lógico.  

Outra coisa que recomendo é planear, em termos de orçamento, quanto é que querem gastar, porque às vezes as pessoas têm a tendência de verem um valor muito barato para Paris, por exemplo, mas depois chegam a Paris e ficam chocados porque a estadia é muito cara. Às vezes, até poderiam apanhar um voo que é mais caro para a Tailândia, mas depois lá é muito mais barato. Portanto, as viagens acabam por ficar quase «ela por ela», se estivermos a colocar tudo no mesmo estilo de vida, ou seja, um hotel de quatro estrelas em Paris com um hotel de quatro estrelas na Tailândia, etc. Acho que é importante fazer pesquisa e tentar ver também o custo de vida no local em si. A minha última dica seria para não levar coisas a mais. Quando estamos a planear a viagem, temos sempre tendência a fazer overpacking e a, maioria das vezes, não usamos metade das coisas que temos e acabamos por andar mais pesados, principalmente num tipo de viagens mais longas, que andamos de um lado para o outro. Portanto, seria para levar apenas as coisas absolutamente necessárias. 

 


 

«Quando nós começámos, nunca sequer pensámos nisso ‘vamos inspirar pessoas’. Na altura, estávamos mesmo a partilhar aquilo que mais gostávamos. Aconteceu tudo de forma mais orgânica, mas, hoje em dia, temos muito mais essa noção»

 


 

O que é que não pode faltar na vossa mala de viagem?

Raquel: Para nós, é a câmara fotográfica (risos) e o tripé. Mas acho que, para toda a gente, ter uma câmara fotográfica, nem que seja a do telemóvel, é sempre importante para eternizarmos os momentos mais especiais das nossas vidas.  

Visto que entrámos agora no verão, quais são as vossas dicas para quem está a pensar viajar nesta estação? 

Raquel: Deveria ser o ano inteiro, mas eu sei que muitas pessoas se desleixam neste sentido, mas protetor solar sempre para evitar escaldões. Também repelente de mosquitos porque nesta altura há sempre mais mosquitos e, dependendo dos destinos, podem ser um dos maiores fatores para propagação de doenças. Além disso, por norma, o verão, na maioria dos destinos, sobrepõe-se à época alta, portanto eu diria se houver algum sítio ou algo que queiram muito visitar, é importante recordarem-se o mais cedo possível, para conseguirem aproveitar e evitar as confusões e multidões. Por norma, nós até tentamos evitar viajar muito em época alta porque os preços sobem, portanto, neste momento, se as coisas já não foram planeadas com antecedência já não há muito a fazer. 

Como é que definem o vosso percurso até agora? 

Raquel: Muito desafiador porque todos os dias são diferentes. Todos os dias são um desafio de termos de aprender coisas novas, por nós próprios, por pesquisa ativa, por compra de cursos online, de livros, o que seja. Nós não tínhamos conhecimento absolutamente nenhum em termos profissionais de fotografia, edição, marketing digital, redes sociais, nada relacionado com esta área de empreendedorismo. E depois, todos os dias, tentamos resolver problemas para os quais nunca fomos preparados completamente, fora da nossa zona de conforto. Mas também é muito gratificante porque conseguimos experienciar coisas que com as nossas profissões antigas ia ser muito difícil. Conseguimos conhecer pessoas que nos inspiraram imenso, que mudaram as nossas vidas e tornaram-se os nossos melhores amigos, hoje em dia. Conseguimos trabalhar com marcas que adoramos e conseguimos viajar o mundo que é uma coisa que também adoramos. 

 

 

 

 

Além do vosso relacionamento, mostram que é possível correr atrás dos nossos sonhos e objetivos. Procuram ser uma inspiração para o público que vos segue? 

Raquel: Quando nós começámos, nunca sequer pensámos nisso ‘vamos inspirar pessoas’. Na altura, estávamos mesmo a partilhar aquilo que mais gostávamos, portanto aconteceu tudo de forma mais orgânica. Mas, hoje em dia, temos muito mais essa noção. Tentamos passar muito mais isso e inspirar muitas pessoas, seja de que área for. Nós estamos longe de ser perfeitos, mas tudo aquilo que achamos que fazemos melhor ou que está a trazer-nos mais frutos, nós partilhamos. Somos mesmo um livro aberto, quer seja em termos de redes sociais, de Instagram, de edição, da nossa relação amorosa. Neste momento, estamos a construir a nossa casa, tudo o que é fornecedores, preços, tudo o que nós podemos partilhar para ajudar outras pessoas, é isso que nós tentamos fazer com a nossa conta.  

Quais são os vossos projetos ou perspetivas futuras? 

Raquel: A nível pessoal, nós estamos neste momento a construir a nossa casa e os planos é tentarmos crescer a nossa família. E em termos profissionais, estamos a gostar tanto do projeto de construção da nossa casa e tudo o que envolve esta área da construção, que gostávamos de ficar mais ligados também a esta área e investir mais em imobiliário.