Faltam ainda alguns minutos para o seminário que inaugura a terceira edição do Ubuntu Fest ter início, mas Irene Leite aguarda já no seu lugar pelo início dos trabalhos. À FORUM ESTUDANTE, a educadora especializada em Atividades Extracurriculares (AEC) explica ter um objetivo claro nesta sua presença: “Pretendo encontrar novas perspetivas para motivar os alunos nas escolas”.

Na metodologia Ubuntu, que espera conhecer melhor durante este evento que, durante três dias, se realiza em Vila Nova de Gaia, Irene Leite acredita poder encontrar “métodos que possam ser adaptados às necessidades específicas dos estudantes”. Enquanto educadora, acrescenta, é fundamental diversificar as ferramentas à disposição. Nesse particular, o valor de comunidade – central na filosofia e método Ubuntu – será essencial para garantir a motivação dos alunos. “O estudante deve estar sempre no centro”, reforça.

 



A par de Famílias, Empresas e Comunidade/Organizações, a Escola é um dos quatro eixos centrais do projeto “Ubuntu no Bairro”, a iniciativa liderada pelo Instituto Padre António Vieira no município de Vila Nova de Gaia no âmbito do qual se realiza a terceira edição do Ubuntu Fest. “Bem-vindos a três dias de celebração, partilha e encontro” foi uma das primeiras frasess ouvida durante a sessão de abertura. Entre 14 e 16 de outubro, durante a terceira edição deste evento, serão realizadas diferentes atividades em vários locais do município, como seminários, workshops ou caminhadas.

A primeira atividade do programa ocorreu durante a manhã de hoje, com a realização do seminário "Educar para a relação", no Auditório da Junta de Freguesia de Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia. Paralelamente, várias escolas do município – do 1.ª ciclo de escolaridade ao ensino secundário – realizaram atividades associadas ao Ubuntu Fest. Um flash mob e um momento musical foram alguns dos exemplos de ações realizadas e transmitidas em direto no auditório. 

Em 2022, o Ubuntu Fest tem como central “Bem-estar e Saúde Mental”. Depois de dar as boas-vindas aos participantes, o Presidente do Instituto Padre António Vieira (IPAV), Rui Marques, realçou que este tema tem particular importância tendo em conta “o impacto de dois anos de pandemia, no que diz respeito à saúde mental”.

 


Entre 14 e 16 de outubro, durante a terceira edição do Ubuntu Fest, serão realizadas atividades em vários locais do município de Vila Nova de Gaia, como seminários, workshops ou caminhadas.

 

Por dentro da Inovação Social

O projeto “Ubuntu no Bairro” é uma iniciativa de Inovação e Empreendedorismo Social (IIES) e tem como principal parceiro a autarquia local, sendo desenvolvido em parceria com o programa municipal “O meu Bairro, a Minha Rua”. 

Durante a sessão de abertura, a Representante do Norte do Portugal Inovação Social, Helena Loureiro, destacou os 693 projetos levados a cabo por este programa, salientado a iniciativa “Ubuntu no Bairro” pelo seu foco na “evolução das crianças e do jovem e do impacto que isso poderá ter na criação de um país melhor”. A representante destacou ainda o município de Gaia como sendo “o organismo público que mais investe em inovação social”, sublinhando os bons resultados já alcançados.

 

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A sessão contou com a presença de dois representantes do poder local – o vereador da Câmara Municipal de Gaia, Dário Silva, e o presidente da Junta de Freguesia de Oliveira do Bairro, Filinto Lima. “As pessoas e a relação estão no centro da nossa estratégia”, começou por realçar Filinto Lima, destacando o alinhamento entre os objetivos deste evento e o trabalho realizado localmente.

Logo depois, o vereador da Câmara Municipal de Gaia destacou o trabalho realizado em parceria com o IPAV enquanto forma de “construir pontes” no município entre escolas, poder local e instituições da economia social. “Esta é uma teia que está cada vez mais forte e mais preparada para encontrar soluções em conjunto para os problemas das pessoas”, sublinhou. Neste particular, Dário Silva destacou ainda o projeto municipal “O Meu Bairro, A Minha Rua” como forma de “dar voz às populações”, para que se sintam plenamente integradas.

 

10 chaves para a Educação Relacional

A primeira atividade do Ubuntu Fest consistiu numa palestra de Silvia Penón, do Instituto Relacional de Barcelona, que partilhou “10 chaves para uma pedagogia do reconhecimento”, tendo em vista a construção de uma Educação Relacional. Num contexto em que os conteúdos são praticamente omnipresentes, a redescoberta deste tipo de educação, fundada no conceito de relação, é destacada pela especialista como essencial.

 

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Silvia Penón partilhou 10 pontos chave para garantir a fundação deste tipo de relação educativa: o valor do relacionamento e do reconhecimento, a autoconsciência relacional, o amor (e os limites criados),o reconhecimento da singularidade e da (in)visibilidade do outro, o trabalho realizado a partir dos pontos fortes, a preocupação com o conceito de liderança, bem como a criação de redes de participação e de espaços relacionais para desenvolvimento das respetivas capacidades. “Temos de criar espaços onde os jovens sintam que são únicas e reconhecidas, que têm valor. Alguém que sinta esse amor, poderá criar um mundo melhor”, concluiu.

 

Ubuntu no Bairro sobe a palco

“Como podemos cuidar a comunidade a partir da Escola?” foi a pergunta em destaque no painel seguinte. “O caminho da construção de pontes é muito importante”, começou por realçar a presidente da Junta de Freguesia de Canidelo, Maria José Gamboa, destacando a Escola como um ponto de encontro que deve interessar a todos e não apenas à comunidade educativa. A pandemia foi depois destacada por Filinto Lima como um exemplo da articulação entre a Escola e a comunidade, nomeadamente através das várias iniciativas realizadas de apoio à comunidade educativa, enquanto esforço coletivo: “Conseguimos todos, em conjunto, ultrapassar uma fase muito má na vida de todos nós”.

 

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O Diretor da Escola Secundária Almeida Garrett, Paulo Mota, destacou a importância da articulação entre instituições da economia social, poder local e as escolas na construção de um espaço comunitário. A interação com a comunidade, acrescentou, poderá também passar pelo reconhecimento do trabalho realizado pelos alunos em atividades desportivas ou de voluntariado, por exemplo. “A Educação é absolutamente relacional“, acrescentou o Diretor Municipal de Políticas Sociais da CM de Vila Nova de Gaia, Sérgio Afonso, antes de concluir: “Necessitamos de compreender como se encontram as nossas crianças e jovens, trabalhando em rede, para alcançar melhores resultados”.

A fechar os trabalhos deste seminário que inaugurou a terceira edição do Ubuntu Fest, foi a vez dos Clubes Ubuntu subirem a palco, para partilhar o contexto de partilha destas estruturas que se espalham por escolas de todo o território nacional. O impacto do trabalho realizado na motivação e crescimento dos alunos, bem como a ligação com os pais e a restante comunidade educativa foram alguns dos pontos em comum partilhados. Nesse sentido, o painel foi composto pelos vários intervinientes que participam neste projeto: educadoras, alunos, uma psicóloga e uma encarregada de educação. 

 

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Já perto do final, foi o testemunho de um dos estudantes sobre a sua participação num Clube Ubuntu que arrancou os aplausos da plateia. "Senti-me mais unido aos meus colegas, algo que não sentia antes", explicou Daniel, antes de concluir: "Penso que esta seria uma boa experiência para toda a gente, para terem a possibilidade de se tornarem uma pessoa melhor".

As atividades do Ubuntu Fest continuam durante os próximos dias. Durante a tarde de hoje, destaque para um workshop de arte urbana e um seminário sobre "o poder de relação na estratégia de reabilitação". Podes saber mais, aqui