Após dois meses fechados em casa, voltámos à escola. Dizem-nos que temos de regressar, a todo o custo, à normalidade… mas será esta a nova normalidade? Tal como dizia Sérgio Godinho «Vem-nos à memória uma frase batida / Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida». Quantas vezes já não nos pareceu ouvir esta frase? Mas, desta vez, a nossa realidade alterou-se completamente, tudo o que tínhamos tomado como garantido foi-nos tirado e, apesar de estar a ser devolvido aos poucos, não sabemos quando teremos tudo de volta.

A princípio é simples, anda-se sozinho… Nunca pensei que isto fosse acontecer, andamos afastados e com medo de todos os que nos são próximos, fazemos os possíveis e os impossíveis para aguentar a máscara, mas mesmo assim não estamos seguros. Entrei na escola à espera de uma realidade diferente. Senti algo estranho: um choque entre o sonho e a realidade. Percebi que nem tudo correspondia às nossas expectativas mas que tínhamos de aprender a trabalhar com o que temos.

 


«Entrei na escola à espera de uma realidade diferente. O que senti foi uma sensação estranha, um choque entre o sonho e a realidade»
Ana Isabel Veiga, estudante


 

 Os corredores estão completamente vazios, onde antes havia histerias, corridas e atropelamentos, agora, existe um silêncio ensurdecedor, uma coisa inexplicável… Deixou de existir o nervosismo pré-testes e apresentações, não há alunos sentados no parapeito das janelas a copiar os trabalhos de casa à pressa. Agora não há nada… No exterior não há gritos, não há brincadeiras, já ninguém joga à bola, as crianças desapareceram e com elas levaram a essência desta escola.

Os espaços mais improváveis, como a cantina, a biblioteca e a sala de teatro, são agora as novas salas de aula. Nunca estiveram tão cheias. Faz-me falta a confusão, cruzar-me com amigos e professores no corredor… na realidade faz-me falta a liberdade, poder abraçar quem eu quiser, ir ao bar, ir à outra ponta da escola só para procurar um amigo.

 

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E nós que chegámos à reta final da Escola, este seria o nosso ano… Não porque teríamos várias novas experiências à espreita, mas porque era agora que iríamos aproveitar até à última espremedela tudo o que nos tem vindo a ser proporcionado. Pensávamos que ainda iríamos participar uma última vez no Sarau, no Dia Aberto, no Rethik!ng Europe e em todas as outras coisas que não cabem aqui… Mas a Covid-19 passou-nos uma rasteira das grandes: agora sabemos que essas experiências não se vão repetir.

Ana Isabel Veiga tem 17 anos e é estudante da Escola Secundária Infanta D.Maria, em Coimbra.