Desenvolver e aprofundar os conhecimentos obtidos em licenciatura. Esta é a forma como a Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) define a primeira das metas do estudo de mestrado. Este crescimento é realizado, formalmente, ao longo de 3 ou 4 semestres, num total de 90 a 120 créditos. 

Durante este tempo, o percurso é dividido em duas partes: há unidades curriculares de especialização numa área e há também um trabalho científico, de projeto ou estágio. A escolha parte do estudante e é justificada pelo seu perfil e consequentes prioridades. Se um estudante pode ver no estágio uma possível porta para o mercado de trabalho, outro poderá ter interesse em aprofundar um tema previamente estudado.

 

Depois de Bolonha

A implementação do Processo de Bolonha trouxe uma nova importância ao Mestrado. As mudanças enquadram-se na criação de três ciclos de estudos que, mantendo as designações anteriores (licenciatura, mestrado e doutoramento), se caracterizam por durações mais curtas e por uma maior flexibilidade.

Desta forma, a divisão do espaço a académico em três ciclos de estudos “encurtou” a duração da maioria das licenciaturas. Se antes se realizavam ao longo de quatro ou cinco anos letivos, podem agora ser completada em 6 semestres. Por outro lado, cada vez mais cursos escolheram apresentar mestrados integrados, de forma a possibilitar esta especialização. 

Os números da Pordata mostram um consequente aumento do número de alunos: de um total de 6307 estudantes de mestrado, em 2007, passou-se quase para o dobro, no letivo seguinte (mais de 11 mil estudantes). Durante os anos seguintes, os números continuam a aumentar, até estabilizarem, por volta de 2012 (ver gráfico). Entre mestrado e mestrado integrado, contam-se hoje quase 25 mil alunos. O número representa quase 32% do total de estudantes do Ensino Superior. 

 


O número de estudantes de mestrado quase duplicou, de 2007 para 2008.
Atualmente, são mais de 25 mil estudantes (32% do total)


 

O mundo do Mestrado

Para além das mudanças formais, o que caracteriza este ciclo de estudos? Para além do referido desenvolvimento e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos em licenciatura, numa lógica de continuidade, a DGES apresenta ainda outros objetivos necessários para a conclusão de um mestrado.

Desde logo, este ciclo está mais próximo da investigação, ou seja, da constituição de “desenvolvimentos e aplicações originais”. Sé verdade que esta é uma vertente que fica sobretudo presente nos casos em que os estudantes optam por realizar dissertações, contudo, ela também está presente, por exemplo, na elaboração de relatórios de estágio. Isto porque a experiência no mercado de trabalho deverá ser enquadrada teoricamente, o que pressupõe a investigação de uma área em específico.


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Por outro lado, para além da aquisição de novos conhecimentos, o mestrado caracteriza-se pela capacidade de aplicação dos mesmos. Ou seja, é esperado que um estudante consiga resolver novos problemas que não lhe são familiares, mesmo que sejam relacionados com a sua área de estudo. Ligada a esta dimensão, a DGES refere “a capacidade de ligar com questões complexas” ou de decidir em situações onde há menos informação do que desejável.

A tónica está em, para além de saber mais, ser também capaz de pensar esse novo conhecimento, nomeadamente a profissão ou área de estudos, nomeadamente sobre “as implicações e responsabilidades éticas e sociais”. Por fim, o mestrado serve também, de acordo com a mesma fonte, como forma de garantir que o estudante fica capacitado para aprender ao longo da sua vida, de forma “auto-orientada e autónoma”.

Diversificar vs. Especializar

A transformação operada pelo Processo de Bolonha persegue ainda outro objetivo: a promoção da mobilidade da comunidade académica (estudantes, docentes e investigadores). Tudo porque passou a ser possível “combinar” vários percursos académicos. Neste processo, desempenhou um papel fundamental o Sistema de Créditos Académicos (ECTS).

Tal como defendem Margarida Saraiva e Teresa Nogueiro, no artigo Empregabilidade e o Processo de Bolonha, a introdução de um “segundo ciclo permite aos estudantes obter uma maior flexibilidade na área científica e no currículo”, o que facilitará “uma eventual mudança na carreira”. A fundação de um segundo ciclo de estudos trouxe a possibilidade de complementar a formação de licenciatura com formação avançada em instituições, áreas do saber ou países diferentes, nos casos em que não existe mestrado integrado.

 


O Processo de Bolonha "permite aos estudantes obter uma  maior flexibilidade científica e curricular". Contudo, aumentou também a necessidade de especialização. 


 

Contudo, há uma outra face do sistema de ensino superior pós-Bolonha: a necessidade de especialização. Isto porque a licenciatura é definida como um primeiro grau científico. Como explicam as autoras, durante uma licenciatura, é oferecido “treino científico que lhes permitirá aceitar um trabalho de nível intermédio, com funções gerais”. Por essa razão, em muitos casos, o aluno sente que deve dar continuidade aos seus estudos no ciclo seguinte, que poderá ser em mestrado integrado.

De resto, nos casos em que a profissão ambicionada se relaciona diretamente com a área da licenciatura, opta-se, muitas vezes, pela continuação dos estudos num mestrado “de fileira”, com o objetivo de assegurar uma preparação mais eficaz para o mercado de trabalho numa área específica e, muitas vezes, um primeiro contacto com a realidade laboral, através de um estágio. 

E a empregabilidade?

Estas mudanças no papel do mestrado fazem-se também sentir do ponto de vista dos empregadores. Conforme noticiava, em 2015, o jornal Público, “Mestrados já são condição para entrar mais rápido no mercado de trabalho”. O artigo detalha como, depois de Bolonha, o lugar das formações de segundo ciclo se alterou: “Se antes eram um passaporte para a vida académica, hoje as empresas preferem recrutar alunos com mestrado”.

Os números do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) parecem dar corpo a esta hipótese. De acordo com os dados de dezembro de 2018, do total de população desempregada que detém um curso superior, cerca de 78% são licenciados. Já no caso dos mestres, o valor fixa-se nos 16,6%. Tendo em conta que, desde 2012, o número de mestrandos tem se mantido nos 30%, os dados parecem indicar uma menor taxa de desemprego entre as pessoas que detém um curso de segundo ciclo.

 

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De acordo com um estudo que Universidade Nova de Lisboa fez, em 2013, sobre a empregabilidade dos diplomados pré e pós-Bolonha, os dados são claros: “Ter mestrado reduz a um terço o risco de ficar desempregado”, noticiava então o Diário Económico. O mesmo artigo salienta o caso de outras quatro instituições de ensino superior onde se registam resultados semelhantes. 

As diferenças fazem-se sentir também na remuneração. De acordo, com o mesmo estudo da UNL, o rendimento médio de um mestre é 40% superior ao de um licenciado, um ano depois de finalizar o curso. Tudo razões que levam os estudantes a prosseguir estudos, depois da conclusão do primeiro ciclo.