Foi estudante do ISCAL, Presidente da Associação de Estudantes e membro do Conselho Pedagógico. Depois de concluída a formação, continuou no mesmo instituto, tornando-se docente. Hoje, Pedro Pinheiro é Vice-Presidente do ISCAL e utiliza a sua experiência, ao longo dos últimos vinte anos, para descrever à FORUM as características distintivas desta instituição de ensino superior, destacando "o cunho prático do ensino" ou a adoção de simuladores aplicados ao Ensino Superior em todos os cursos.
De que forma pode descrever o ISCAL a um estudante que não o conheça?
O ISCAL é uma instituição do ensino superior politécnico que opera essencialmente na área das Ciências Empresariais. Leciona também um curso de Solicitadoria – que cai mais nas áreas das Ciências Jurídicas – mas os demais são de Ciências Empresariais puras, por assim dizer: Contabilidade, Finanças, Comércio e Negócios Internacionais e Gestão. É uma escola com mais de 260 anos de história, ou seja, é uma instituição já muito consolidada e reconhecida no mercado, nomeadamente pela qualidade das pessoas que forma. De outra forma, dificilmente duraria 260 anos (risos).
E o que distingue esta instituição?
Quando falo de qualidade, refiro-me a duas vertentes interrelacionadas: é uma qualidade alicerçada numa sustentação teórica sólida e associada a uma componente prática. Essa é uma das marcas do ISCAL – aliar a teoria e a prática de forma a desenvolver competências nos estudantes que lhes permitam uma inserção rápida no mercado de trabalho e, mais tarde, ter carreiras de sucesso.
De que formas é que essa vertente prática se corporiza?
Por um lado, todos os professores aliam a uma carreira académica e de mérito científico reconhecido uma vertente prática que nasce da sua experiência no mercado. Outro dos traços comuns e que está muito ligado ao projeto pedagógico do ISCAL é a inserção, dentro das unidades curriculares, de simuladores aplicados ao Ensino Superior. Todos os ciclos de estudo de licenciatura têm uma unidade curricular de simulação. De uma forma didaticamente diferente, os alunos acabam por acelerar o desenvolvimento das competências antes da entrada no mercado de trabalho.
Pode dar-nos alguns exemplos relativos à forma como estes simuladores se concretizam?
Nas áreas de gestão, no último semestre do curso, a unidade curricular com maior peso é a de simulação. No âmbito desta unidade curricular, os alunos utilizam um simulador norte-americano, totalmente online, em que simulam toda a atividade de uma empresa, do nascimento até ao desenvolvimento da atividade. Através desta simulação conseguimos focar as várias competências adquiridas durante o semestre. Por outro lado, fomentamos competências difíceis de fomentar de outro modo.
Apresentação do ISCAL (Fonte: Canal de Youtube do ISCAL)
De que forma?
Uma das características desta simulação é que os alunos concorrem entre si. Ou seja, os estudantes trabalham em grupos, cada grupo é uma empresa, cada empresa trabalha num mercado concorrencial. O que faz com que as decisões tenham impacto: fixar mal o preço de venda, por exemplo, implica que outro grupo, que fixou melhor, vai vender mais. É uma lógica de gamificação do Ensino, desenvolvendo competências que são difíceis de desenvolver num ambiente de aprendizagem formal. Por exemplo, capacidade de trabalhar sobre pressão, de trabalhar em equipa, de ser criativo nas decisões, de lidar com a adversidade, etc.
E esta é uma prática pedagógica utilizada em todas as áreas?
No ISCAL, ela é utilizada em todas as áreas, incluindo a Solicitadoria, num projeto adaptado às necessidades e competências que um solicitador precisa de desenvolver. Mas é transversal a todos os ciclos de estudo. Há mais instituições a fazer isto, em Portugal, mas de forma diferente. Normalmente, existem simuladores de práticas empresariais, que se afastam da lógica de gamificação. Mas o simulador que utilizamos nas áreas de Gestão ou Comércio e Negócios Internacionais é o único que conheço em que aplicada esta metodologia. E existem estudos que apresentam claramente os benefícios desta prática pedagógica no Ensino Superior. Há uma grande diferença nos resultados que podem ser atingidos.
Existem outros mecanismos para garantir que a experiência dentro do curso é aproximada da realidade do mercado de trabalho?
Sim. Há uma preocupação da instituição, como um todo, com a lógica da empregabilidade. Ou seja, não queremos formar perfis que depois o mercado não absorva. Esse é um ponto prévio. Para tal, temos uma relação constante com os principais agentes e empregadores do mercado, avaliando as suas necessidades. Por outro lado, outro dos traços distintivos passa pela tentativa de que o mercado esteja presente dentro da sala de aula – através de conferências, seminários, workshops, aulas abertas, etc. Isso permite que os estudantes do ISCAL possam perceber o que o mercado espera deles. Por outro lado, nós tentamos direcioná-los, para que vão ao encontro desse objetivo.
E em relação às áreas onde se move o ISCAL, quais são os principais desafios para o futuro do emprego?
Há hoje uma realidade transversal a várias áreas que é a transformação digital. Nas áreas das Ciências Empresariais, esta transformação tem sido, sem dúvida, um dos desafios mais apontados pelas entidades reguladoras, empregadoras e científicas. Enquanto instituição de referência, este é um dos temas que temos de conseguir abordar, garantido uma capacidade múltipla: ter os cursos adaptados às necessidades do mercado, mas que sejam suficientemente ágeis para que, quando o mercado muda, tenham a capacidade de se adaptar rapidamente, garantido que a qualidade é mantida.
Que outros desafios se apresentam na tarefa de preparar estudantes para esta trabalhar nestas áreas?
Há um outro desafio que diz respeito a todas as áreas: a globalização. Existe um mercado cada vez mais globalizado. Isto tem implicações em questões como a deslocalização de serviços, a interação em ambientes multiculturais ou o tipo de ferramentas e competências não-formais que são exigida Esse é outro dos desafios. Como equilibrar, num plano de estudos relativamente curto, de três anos, um conjunto de competências técnicas e um conjunto de softskills que, diz-nos o mercado, são igualmente importantes.
Quais têm sido algumas das formas que têm encontrado para responder a estas necessidades?
Temos tentado ser criativos, com várias abordagens junto dos estudantes. Criámos ciclos de formação específicos, para desenvolver estas competências. Temos também tentado inserir nos planos de estudos mecanismos para este desenvolvimento. Por outro lado, num trabalho mais pedagógico, alertamos os estudantes para a necessidade de desenvolver esta vertente. Os estudantes chegam do secundário, por vezes, com pouca noção do que o mercado de trabalho espera deles. Depois, temos três anos para lhes mostrar tudo o que é esperado: que saibam comunicar, que sejam criativos, fluentes em línguas estrangeiras, que tenham capacidade de adaptação, etc. Hoje em dia, o mercado procura trabalhadores bem preparados tecnicamente, mas que detenham também estas competências.
"Os estudantes chegam do ensino secundário, por vezes, com pouca noção do que o mercado de trabalho espera deles"
Tendo em conta o cenário que descreve, o que pode um estudante do secundário esperar da experiência de estudar no ISCAL?
Pode esperar, à partida, uma experiência que lhe vai mudar a vida. Eu sou suspeito para falar porque fui aluno aqui [no ISCAL] (risos). E por variadíssimas razões. Desde logo, vai entrar num ambiente onde toda a gente se sente parte de algo com história, como parte de um todo. Depois, há uma proximidade grande entre todos os agentes do processo ensino-aprendizagem, procuramos que este processo não seja impessoal. Por fim, esta é uma instituição onde existe um ambiente salutar, do ponto de vista académico, com uma entreajuda muito grande entre os estudantes. E há toda a parte recreativa, desportiva e cultural que são peças que procuramos juntar, para garantir uma experiência como um todo. O foco estará sempre na aprendizagem de competências. Agora, para além disso, tentamos acoplar uma série de experiências que tornem a passagem pelo ISCAL um marco na vida dos estudantes. É por essa razão que os estudantes do ISCAL sentem que esta é uma viagem que vale a pena, não só do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista pessoal.
Tendo em conta a sua ligação ao ISCAL, como pode descrever a evolução deste instituto, ao longo dos anos?
A instituição cresceu muito, ao longo dos últimos anos. E em todos os aspetos – do ponto de vista qualitativo e quantitativo. Isto está muito ligado à génese do ensino politécnico, que era um ensino muito ligado a um saber prático. Hoje em dia, as diferenças entre o ensino universitário e politécnico têm-se vindo a esbater. Para o ISCAL, isso significa que, do ponto de vista científico, temos um corpo docente muito mais qualificado e práticas pedagógicas que deram um salto qualitativo muito grande, como é exemplo a inclusão dos simuladores. Por outro lado, é também uma instituição muito mais internacionalizada e aberta ao exterior. Temos mais cursos, mais estudantes, mais investigação. Nos últimos 10 a 15 anos, temos tido um crescimento constante e sustentado.