Em 'Longa Pétala de Mar', a aclamada escritora Isabel Allende regressa ao Chile como cenário da sua narrativa e ao registo de romance histórico que tanta fama lhe trouxe além-fronteiras. O resultado é um livro que se lê sem se dar conta, tão sugados somos de imediato para o destino de meia dúzia de personagens com as quais nos ligamos emocionalmente de imediato. E, pelo caminho, vamos (re)descobrindo uma lição de História da autora de obras incontornáveis, com destaque para 'A Casa dos Espíritos', a sua estreia em 1982.
Numa viagem pela História do século XX, Allende transporta os leitores num percurso que começa com a vitória iminente dos franquistas na Guerra Civil Espanhola, no final da década de 30 até 1994 e com a anunciada perseguição aos republicanos, derrotados na contenda.
Roser Bruguera, uma jovem viúva, e Víctor Dalmau, irmão do falecido marido de Roser e médico, são dois dos rostos da perigosa fuga da Guerra Civil Espanhola, que os leva através dos Pirenéus até França. Numa Europa em erupção, decidem arriscar e embarcar num navio fretado pelo cônsul chileno em Paris. Do porto de Trompeloup, Roser e Víctor fazem-se ao mar no Winnipeg, rumo ao Chile, "longa pétala de mar, de vinho e de neve", como o descreveu Pablo Neruda. O poeta e também principal responsável por esta ambiciosa missão humanitária haveria de gravar a importância desta data na História, escrevendo que os críticos poderiam até esquecer toda a sua poesia, mas o poema que ali acontecia ninguém o poderia apagar.
Há 80 anos, a 4 de setembro de 1939, os refugiados europeus chegam ao Chile e são recebidos como heróis, de braços abertos. Depois da provação do exílio, Víctor e Roser integram-se com facilidade na vida social do país. Décadas em paz terminam com o violento golpe de Estado que o governo de Salvador Allende, amigo e parceiro de xadrez de Víctor Dalmau, precipitando um novo exílio. Mas para onde fugir, se o que se procura já não existe?
'Longa Pétala de Mar' é uma reflexão atual sobre o mundo em que vivemos: sobre o recrudescimento dos totalitarismos e sobre as crises dos refugiados e deslocados causadas pela violência e desigualdades. Um imperdível romance sobre a esperança, o exílio, o sentimento de pertença, o desenraizamento e, inevitavelmente, também sobre o amor.