Dezasseis jovens de todo o mundo, entre a América Latina, Ásia e a Europa, passaram recentemente pelos laboratórios do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), no âmbito de mais uma edição do Ocean Alive Summer Course, este ano primeira vez direcionado aos estudantes do Ensino Superior.
Foram 10 dias (de 8 a 19 de julho) a estudar e a observar a biodiversidade marinha em plena Reserva Natural do Estuário do Sado, pelas mãos da cooperativa de educação marinha Ocean Alive e com um programa científico em cooperação com o IPS, nas áreas da Biotecnologia Marinha e das Tecnologias do Ambiente e do Mar, dinamizado pelos docentes Ana Mata e Ricardo Salgado.
Um curso de verão que encheu as medidas a quem chegou de longe, não só para aprofundar conhecimentos académicos, mas também para dar o seu pequeno contributo para a sustentabilidade dos oceanos. Isso mesmo confessou Juan Bravo, estudante de Biologia Marinha, que saiu do México rumo a Setúbal por ser “um bom caso de estudo”. “Há aqui uma grande biodiversidade, mas há também um porto, uma grande cidade, várias unidades industriais. Quis conhecer de perto como é que a natureza consegue ser resiliente face às muitas pressões da comunidade”.
Recolher fitoplâncton marinho em caiaque, mergulhar em apneia para observação do recife e pradarias marinhas, aprender técnicas de monitorização da população residente de golfinhos ou aplicar protocolos científicos de qualidade ambiental e armazenamento de carbono azul – foram algumas das atividades desenvolvidas, a que se juntou a vivência de um projeto de conservação do oceano, que se distingue pelo forte envolvimento da comunidade local. “Pequenas ações podem fazer uma grande diferença. Ontem, em meia hora, retirámos de um areal 180 quilos de lixo. É surpreendente”, contou Juan, visivelmente inspirado e impressionado.
Também para Irene Rubiera de Felipe, estudante de Direito em Madrid, esta foi “a experiência perfeita” num local que define como “o paraíso”. Irene é ativista pelo clima, quer especializar-se em Direito Ambiental, e encontrou neste curso “estratégias para enfrentar os problemas e soluções para começar a aplicar na minha própria comunidade, acrescentando o meu pequeno grão de areia para combater as alterações climáticas”. À semelhança de Irene, uma grande maioria dos participantes veio de áreas do saber como Direito, Economia, Antropologia ou Sociologia, que não estão diretamente ligadas às Ciências Marinhas. O que, para Ana Mata, docente da Escola Superior de Tecnologia de Setúbal (ESTSetúbal/IPS), é algo “importantíssimo porque precisamos de todas estas pessoas para apoiar a conservação e a sustentabilidade do oceano em várias frentes. Esta é também a nossa missão: contribuir para formar futuros líderes”. Sobre a estreia do IPS como parceiro neste curso de verão, a docente salienta a contribuição científica nas “áreas de estudo da dinâmica sedimentar, da qualidade da água, dos poluentes ambientais e ecotoxicidade”, bem como “a forte capacidade experimental que temos, através dos laboratórios da ESTSetúbal, que são muito bem equipados”.
O curso, apoiado pelo programa Santander Universidades, passou também por temáticas como a poluição por microplásticos, as alterações climáticas, os ecossistemas costeiros, a sobrepesca e a acidificação do oceano, convidando investigadores de outras instituições de ensino superior, bem como a organização não governamental World Wildlife Fund (WWF), a partilharem os seus saberes e experiências. Para Raquel Gaspar, cofundadora da Ocean Alive, esta parceria com o IPS permitiu elevar a um outro patamar o “sonho” deste projeto de escola de verão, que já vai na sua quarta edição. “Conseguimos pela primeira vez chamar a este curso estudantes do ensino superior, ou seja, jovens quase adultos que estão num momento chave das suas vidas. Para nós, isto é ouro, é uma janela de oportunidade para marcar estes jovens para a conservação do oceano”.