Depois de vários anos a ouvir um discurso centrado na necessidade da melhoria do salário mínimo, é chegado o momento da batalha pela melhoria efetiva do salário médio. Afinal, a classe média é o grande pilar de qualquer sociedade desenvolvida. E Portugal não pode fugir à regra, nem tampouco ficar para trás neste segmento tão relevante para o país.

Esta tentativa (da manutenção e melhoramento condições de vida da classe média) associa a si um alargado conjunto de fatores. No sentido de simplificar a abordagem, a qualificação profissional será o principal enfoque deste artigo. Ao longo das últimas décadas verificou-se um aumento considerável das qualificações da população portuguesa. Paralelamente, há também a constatação óbvia de que a próxima geração será a mais qualificada de sempre.

Feitas as constatações da "verdade de la palisse", coloca-se a necessidade imperiosa de continuar o combate pela qualificação. E para que esse se desenrole na sua plenitude, o Estado não pode apenas limitar-se a fornecer a possibilidade da qualificação da população. Terá, forçosamente, de desempenhar um papel mais ativo.

 


«O Estado não pode apenas limitar-se a fornecer a possibilidade da qualificação da população. Terá, forçosamente, de desempenhar um papel mais ativo»

 

A competição dos parceiros é feroz e a motivação que se exige é atroz. A título de exemplo: uma pessoa que, na sua vida ativa, pretenda frequentar o ensino superior estará a fazer um investimento em distintas vertentes; a nível pessoal, no sentido de se valorizar, e profissional, com o objetivo de progredir solidamente na sua carreira.

Passando agora à esfera temporal e financeira, a opção pelos estudos superiores terá um custo físico, representado por uma carga extraordinária de trabalho, e também um custo económico. Tirar um curso superior em Portugal, de grosso modo arredondado para exemplificar o custo direto, requer qualquer coisa entre os 5.000€ (no ensino público) e os 25.000€ (no ensino privado).

 

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Ao traduzir os valores suprarreferidos em resultados práticos, se um trabalhador vier a ser promovido por se ter qualificado, o payback significa um aumento de cerca de 300€ mensais. Portanto, na melhor das hipóteses, se o trabalhador for promovido quando terminar os seus estudos recuperará o seu investimento num horizonte temporal entre 2 e 5 anos.

Como se constata, o aumento de salário mencionado terá impacto nas contas de um agregado familiar cerca de uma década após o início da empreitada. Estes factos explicam o porquê da fraca adesão e da clara necessidade dos apoios estatais. Se o aumento do salário médio não se tornar uma realidade, serão poucas as pessoas disponíveis para reforçar as suas qualificações.

 


«Se o aumento do salário médio não se tornar uma realidade, serão poucas as pessoas disponíveis para reforçar as suas qualificações»

 

A crítica fácil seria afirmar que noutros países o ensino público é inexistente ou apenas mais caro. Todavia, nesses mesmos países, o salário, mínimo e médio, também é muito mais elevado e claramente mais compensador para um investimento pessoal dessa ordem.

Concluindo, o caminho parece uno. Não será preciso olhar para fora se houverem melhores condições para estudar e viver cá dentro, especialmente quando os ganhos são de variada ordem. Ao qualificar hoje estaremos claramente a ganhar o amanhã.