O que definimos como juventude é um período extenso do desenvolvimento humano, vasto e diverso, com vários ciclos e etapas, que vai desde o final da adolescência até ao início da fase adulta. Este período de vida é crucial, constituindo uma fase de consolidação da identidade, onde o jovem vai definindo grande parte do seu percurso de vida, em termos académicos, profissionais e pessoais.
É a altura em que se verifica a separação ou autonomia gradual das figuras parentais e do grupo de pares, assim como a consequente individualização. O jovem vai percebendo as suas características e diferenças face aos outros e à família, entendendo também que pode ser único e não tem de ser igual aos outros, que tem potencial para desenvolver o seu projeto pessoal, de acordo com as suas referências e descobrir a sua autenticidade.
É neste período de transição que se instala uma crise inerente ao próprio processo, que é fundamental ultrapassar. Quando a crise se instala e não se resolve, podem surgir sintomas como a ansiedade, depressão ou tristeza, dificuldade em dormir, irritabilidade, maior impulsividade. De facto, estamos perante uma fase de grande expansão, mas também de grande vulnerabilidade - e é neste período que pode surgir a doença mental.
«[A juventude] é uma fase de grande expansão, mas também de grande vulnerabilidade»
De acordo com a Associação Internacional para a Saúde Mental Juvenil, é entre os 15 e os 25 anos que ocorrem 75% das doenças mentais, sendo por isso fundamental investir na prevenção e promoção da saúde mental, de forma a que a doença não se instale nem se torne incapacitante ou limitativa na vida dos jovens adultos.
Na minha prática clínica, constato que os jovens pedem ajuda psicológica com particular incidência nestes períodos de transição de ciclos de vida. Assim, temos dois grandes momentos que induzem ansiedade e sentimentos depressivos: a entrada na universidade e a saída da universidade. Iniciar um percurso universitário obriga a uma adaptação a um novo método de ensino e a uma nova fase da vida, que pode gerar ansiedade. Finalizar o curso, por seu lado, pode desencadear inseguranças, por receio do futuro, surgindo uma forte ambivalência em entrar na vida ativa.
Paralelamente, outro grande motivo que leva os estudantes a pedir ajuda psicológica prende-se com os acontecimentos de vida, nomeadamente as rupturas amorosas, a morte de familiares, ou pessoas próximas - e ainda questões de fragilidade sócio-financeira.
De facto, ao fazer o diagnóstico clínico, constatamos que grande parte dos pedidos de ajuda psicológica dos jovens têm por ordem de frequência a ansiedade, a depressão e a ideação suicida. Como estar atento aos sinais para pedir ajuda psicológica atempadamente? É natural que um jovem adulto não peça logo ajuda ao primeiro tropeço, faz parte desta fase da vida ficar mais autónomo emocionalmente e tentar resolver sozinho as suas questões pessoais. Contudo, há situações que é importante saber identificar para pedir ajuda e não adiar.
Assim, se sentires que a linha do tempo deixa de ser fluída e por mais planos que faças permaneces no mesmo sítio, ou se sentes que o tempo parou, como se estivesses encalhado; se olhares para a tua vida e vires que sempre atingiste os teus objetivos e do nada deixas de os alcançar; se inesperadamente te sobrevém uma tristeza que não consegues controlar; se tudo o que te interessou deixa de te empolgar, esses são sinais que indicam que podes e deves marcar uma consulta de Psicologia e falar com alguém que tenha conhecimento e distância para te ajudar a pensar sobre ti mesmo.
Quando se consegue admitir que se tem ou sente algo que nós próprios não conseguimos resolver e se pede ajuda psicológica no momento certo, os danos na vida reduzem-se e a doença não se instala. A melhor forma de se ajudar, é aceitar que se precisa de ajuda especializada.
Podes encontrar linhas de Apoio e de Prevenção do Suicídio em Portugal como a Linha SNS24 (808 24 24 24) ou a SOS Voz Amiga (213 544 545 - 912 802 669 - 963 524 660 / Diariamente das 15h30 às 00h30).