Joana Duarte tem 17 anos e estuda na Escola Secundária de Gouveia. Numa altura em que inicia o seu último ano do ensino secundário, a aluna vai, pela primeira vez, juntar-se a um clube escolar. Em 2023/2024, vai dar seguimento ao seu interesse na língua espanhola, juntando-se ao Clube de Espanhol que, este ano, inicia a sua atividade na escola. “Entusiasma-me a ideia de continuar a aprender a língua, saber mais sobre a cultura espanhola e visitar novos locais”, conta à FORUM.
Na passagem para o 12.º ano, conta Joana, os alunos “têm mais tempo livre e podem perder o foco”, sendo os clubes escolares “uma forma produtiva de utilizar esse tempo, realizando alguma coisa produtiva”. O facto de os clubes “realizarem, por norma, atividades mais práticas e divertidas” também permite aos alunos “absorver de outra forma aquilo que é aprendido”, acrescenta Joana, que espera ainda “criar e fortalecer amizades”: “Penso que essa é uma parte importante dos clubes escolares, bem como o aproximar de professores e alunos”.
Mesmo não participando, até agora, nos clubes escolares existentes na sua escola, Joana sublinha que a atividade destas estruturas tem impacto em todos os estudantes. “Todos os alunos acabam por contactar com estes clubes, graças às atividades que desenvolvem”, conta, antes de concluir: “Gostava de agradecer aos professores que colocam este seu trabalho em função da aprendizagem e do bem-estar dos estudantes”.
«Gostava de agradecer aos professores que colocam este seu trabalho em função da aprendizagem e do bem-
estar dos estudantes»
Joana Duarte, 17 anos, Escola Secundária de Gouveia
O papel dos clubes
Ao longo dos últimos anos, é possível verificar algumas tendências de crescimento de clubes nas escolas nacionais. O projeto Escolas Ubuntu, do Instituto Padre António Vieira (IPAV), por exemplo, conseguiu, no período de cerca de cinco anos, criar clubes em mais de 400 escolas. Também os Clubes Ciência Viva, uma iniciativa do Centro Ciência Viva, se têm multiplicado pelas escolas nacionais – de acordo com os dados divulgados pelo projeto, de momento, 718 agrupamentos de escolas têm pelo menos um Clube Ciência Viva, num total de 897 clubes fundados. Clubes ligados a outras vocações – como fotografia, teatro e até eSports – também podem ser encontrados em escolas nacionais.
Mas qual o papel que estas estruturas cumprem na comunidade escolar? Maria João e Sandra Oliveira são professoras do Agrupamento de Escolas de Santa Iria da Azóia (AESIA) e trabalham num Clube Ubuntu e no âmbito do Desporto Escolar. Para ambas, os clubes têm um papel importante na comunidade escolar, pois acabam “por ajudar na formação” e colmatar “algumas fragilidades familiares” dos alunos. O facto destes clubes serem gratuitos é igualmente relevante para as professoras, “há uma variedade muito grande e possibilidade de conhecer outras áreas, sendo que algumas nem curriculares são”.
No mesmo sentido, a estudante Joana Duarte também considera que os clubes têm um papel importante nas dinâmicas sociais e culturais regionais. “Em Gouveia, não temos tantas atividades ou recursos como em Lisboa ou no Porto”, destaca, explicando que os clubes acabam por fazer a diferença: “Os Clubes Ciência Viva da minha escola têm um papel importante, por exemplo, uma vez que não existe um centro de ciências perto da nossa cidade – a sua criação foi também uma forma de responder a este contexto”.
Referindo-se ao seu agrupamento de escolas e experiência pessoal, as professoras da AESIA referem estar numa “escola dinâmica” e “rica em clubes”, com um “levantamento a ser feito para distribuir entre os alunos” para que estes fiquem a conhecer as opções existentes.
E que clubes os alunos com que falámos frequentam? De que forma chegaram a estas estruturas? Como é que a experiência impacta a sua vida escolar ou que memórias se levam para o futuro?
«Os Clubes Ciência Viva da minha escola têm um papel importante, por exemplo, uma vez que não existe um centro de ciências perto da nossa cidade – a sua criação foi também uma forma de responder a este contexto»
Joana Duarte, 17 anos, Escola Secundária de Gouveia
Experiências diversificadas
Mariana Romão tem 17 anos e frequenta a Escola Secundária de Porto de Mós. Participou em clubes do 5.º até ao 11.º ano, incluindo uma passagem pelo Desporto Escolar para praticar ginástica acrobática. Entre o 5.º e o 6.º ano, passou pelo clube de fotografia e, até recentemente, esteve no Clube Europeu, que vai deixar de conseguir ir por incompatibilidade de horário.
Quando entrou no Clube Europeu, fê-lo porque a irmã também tinha frequentado. As viagens realizadas pela irmã, durante o tempo que esteve nesse clube, tiveram influência na sua decisão. Como “não queria ir sozinha”, convidou uma amiga para ir com ela, mas, a certa altura, “começou a ir um grupo”. Passou por cidades como Santiago de Compostela, Burgos. Mais tarde, a pandemia fez com que as viagens ficassem por Portugal.
Para Mariana, os clubes dão aos estudantes a oportunidade de conviver com outras pessoas e “encontrar algo em comum”. Aqui encontrava momentos mais descontraídos, onde os professores aliavam conceitos da matéria com as visitas que faziam, ou usavam recursos e conhecimentos adquiridos no clube nas aulas.
A estudante sente que usufruir do clube lhe vai dar experiência para o futuro. Desde a liberdade dada pelos docentes para a preparação das viagens, com vendas de bolos e rifas, passando pela preparação de roteiros, atividades e pesquisas sobre culturas diferentes, Mariana revela que aprendeu a “lidar com os outros” e a compreender a “realidade de diferentes culturas”. “Penso que isso me vai ajudar no futuro”, conta.
«É um complemento à formação que só nos traz vantagens»
Carlos Xavier, 17 anos, Escola Secundária Afonso de Albuquerque
Tal como Mariana, Carlos Xavier, também frequenta clubes desde o 5.º ano. O jovem de 17 anos é da Guarda e frequenta o ensino profissional na Escola Secundária Afonso de Albuquerque. O gosto pela aprendizagem e a curiosidade fizeram com que, desde cedo, procurasse a experiência dos clubes.
Carlos conta que foi por influência dos colegas que se juntou ao clube de Matemática. Depois de entrar, gostou da experiência, uma vez que a matéria era abordada de forma diferente – faziam-se jogos e trabalhava-se o raciocínio. No caso do clube de fotografia, foi o seu interesse nessa área que o fez tomar a decisão de entrar, tendo levado inclusivamente amigos com ele.
Atualmente, frequenta o Clube Ciência Viva, que conta com diversas atividades, revela, como “workshops, palestras e saídas de campo”. Destaca também o facto de a escola também ter sido visitada por trabalhadores da Fábrica Centro Ciência Viva. De momento, Carlos está na expectativa para saber se o Clube Ubuntu é reativado na sua escola, mas mantém-se ativo noutros projetos.
Por vezes, revela, os horários entram em conflito. Por ser um aluno do ensino profissional, acaba por sair mais tarde das aulas. Mesmo assim, isso não o impede de ser participativo e de procurar juntar-se às atividades. Para além das amizades reforçadas e reatadas nos clubes, o estudante destaca as competências que tem adquirido como a gestão do tempo. “É um complemento à formação que só nos traz vantagens”, conta, antes de concluir: “E cria uma maior interligação entre a comunidade escolar”.