A Greve Climática Estudantil chegou a Portugal corria o ano de 2019, inspirada no movimento #SchoolStrikeForClimate iniciado pela ativista sueca Greta Thunberg. Durante 251 semanas, Greta passou as sextas-feiras à porta do Parlamento Sueco, em protesto para que se tomassem ações mais decisivas no combate às alterações climáticas.

A primeira greve climática estudantil em Portugal aconteceu a 15 de março de 2019, com concentrações à frente de câmaras municipais de várias capitais de distrito e uma marcha em Lisboa. Desde então, já se registaram mais greves climáticas, ocupações a instituições de ensino (escolas e universidades) e edifícios governamentais (Ministério da Economia) e, mais recentemente, o lançamento de tinta a membros do Governo – o Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e o Ministro das Finanças, Fernando Medina.

 

Greve pelo Clima: Foi para salvar o Mundo que os estudantes saíram à rua


Estudantes de todo o Mundo trocaram hoje a sala de aula pelas ruas, durante a greve estudantil pelo clima. Em Lisboa, milhares caminharam até às escadas da Assembleia da República.


 

 

Matilde Ventura tem 19 anos, estuda Antropologia e faz parte da Greve Climática Estudantil. Entrou em contacto com o movimento climático nos protestos organizados na refinaria de Sines, na altura em que se preparavam as primeiras ocupações

 

«Esta é a década mais decisiva que alguma vez vimos na história da humanidade»

 

Para contextualizar o objetivo das ações que têm sido realizadas, a jovem ativista explica que urgência climática que estamos atualmente a viver também é causa para o aumento das desigualdades sociais e que o colapso dos ecossistemas causado pelas indústrias fósseis torna a vida na terra insustentável. “Deveríamos estar em pânico”, sublinha a estudante. 

Na sua ótica, “os nossos representantes estão a falhar miseravelmente na responsabilidade que lhes foi delegada” e, por essa razão, “[estas] ações são um travão de emergência que temos de puxar”, afirma. Para Matilde, as marchas estudantis perderam massa porque “as pessoas perdem esperança ao não ver os governantes a fazer nada”, o que leva à desmotivação. Nesse contexto, ações como ocupações, acrescenta, “dão esperança às pessoas”. 

 

«[Os jovens] têm de tomar a responsabilidade de lutar pelo seu futuro e garantir que este existe»

 

Margem “para fazer mais”

Catarina Ribeiro tem 19 anos, é estudante e membro da Greve Climática Estudantil. Para Catarina, a mensagem que está a tentar ser passada é a de que “que estamos a estudar para um futuro que nos está a ser roubado”. A jovem juntou-se ao movimento climático por viver em “pânico desde que soube o que eram alterações climáticas” e se aperceber “que ninguém fazia nada sobre o assunto”.

Com estes protestos, ocupações e outras ações como aquelas que se verificaram com o Ministro do Ambiente e o Ministro das Finanças – os ativistas querem que todos aqueles que estão a ver se apercebam que há margem “para fazer mais” e para que se consigam fazer ouvir, explicam as estudantes. Apesar destes esforços, pensam que as suas atividades não estão a surtir efeito junto dos decisores políticos, que “continuam a colocar a economia acima das pessoas quando estamos em plena crise climática”.

 

«[Os políticos] continuam a colocar a economia acima das pessoas quando estamos em plena crise climática»

 

As estudantes acusam todos os governos de falhar miseravelmente na meta de reduzir as emissões de gases estufa em 50% até 2030 e de “promessas ocas” no que toca ao cumprimento destes objetivos.

A reação da sociedade

Outra das preocupações é a reação da sociedade civil, em particular, os comportamentos violentos que foi possível observar durante algumas das ações e protestos. “É pior se a violência vier da sociedade civil, porque estamos a apelar para que eles se juntem a nós”, destaca Catarina, acrescentando que reações como as que aconteceram em ações do grupo Climáximo não devem ser normalizadas. Em resposta a estas situações, Matilde deixa ainda um alerta: “A violência que tem acontecido agora não é nada comparada com a violência com que nos vamos deparar em muito pouco tempo devido à crise climática”. 

Esta é a década mais decisiva que alguma vez vimos na história da humanidade” é uma ideia partilhada pelas estudantes, que acreditam que os jovens têm de “tomar a responsabilidade de lutar pelo seu futuro e garantir que este existe”. Como tal, prometem aumentar o número de ações com ocupações em escolas, faculdades, e prometendo ir diretamente até espaços do Governo. “Se eles não cumprirem [as promessas], vamos tomar o espaço de decisão pelas nossas próprias mãos”, conta Catarina. “Não vamos ser ignorados”, completa Matilde.