Lançada em 2020, a app francesa BeReal ganhou popularidade em meados deste ano e, em agosto de 2022, atingiu a marca dos 10 milhões de utilizadores diários e mais de 21 milhões de utilizadores mensais.
Para concorrer com as principais redes sociais, a BeReal, como o próprio nome indica, pretende apostar na autenticidade dos seus utilizadores. Esta autenticidade é enfatizada pela dinâmica da app: uma vez por dia, os utilizadores são notificados para, no prazo de dois minutos, fazerem um único post (o “BeReal”), que, usando as câmaras frontal e traseira do telemóvel, captura um retrato fiel daquilo que os utilizadores estão a fazer naquele momento.
«Uma vez por dia, os utilizadores são notificados para, no prazo de dois minutos, fazerem um único post (o “BeReal”), que, usando as câmaras frontal e traseira do telemóvel, captura um retrato fiel daquilo que os utilizadores estão a fazer naquele momento»
Enquanto outras redes sociais, que não nomearemos, podem cair no perigo de apresentar uma visão inatingível das vidas dos outros, sejam influencers ou não, a BeReal não permite a utilização de filtros ou de edições e até limita a possibilidade de os utilizadores voltarem a submeter o seu “BeReal” do dia.
Saem os pores do sol de postal, os pratos gourmet a arrefecer e as férias paradisíacas numa qualquer ilha do Caribe: entram as selfies de quem acabou de acordar, o cinzento open space da biblioteca ou do escritório e, principalmente, sete posts em sete dias seguidos com a vista do nosso sofá da sala.
A dualidade de “ser real”
Se há quem louve a aproximação à realidade potencialmente menos interessante das nossas vidas, algumas vozes também afirmam que esta nova rede social acaba por mostrar apenas os pedaços mais aborrecidos do nosso dia-a-dia. Ou seja, uma vez que não é quando estamos a alta velocidade a descer um trilho de BTT que vamos ter o à-vontade para estar ao telemóvel, a BeReal corre o risco de viver povoada de imagens dos utilizadores quando estão com o telemóvel: deitados na cama ou esbarrondados no sofá.
Não sabemos se esta será, efetivamente, a próxima grande rede social, mas uma coisa é certa: há por aí quem queira combater a vida falsificada e glamorosa que, por vezes, queremos apresentar como fachada. Resta saber se será quando confrontados com a banalidade do nosso quotidiano que conseguiremos aprofundar as nossas amizades e relações.