Se bem que acusassem já o cansaço de uma semana intensa de atividades e emoções, os participantes da Tomar Emotional Academy não se manifestaram menos interessados nas diversas atividades da manhã deste último dia de academia. O Instituto Politécnico de Tomar (IPT) está equipado com uma enorme quantidade de laboratórios de qualidade, que permitem o ensino e a prática de diferentes artes e ciências – e foi precisamente isso que os nossos estudantes puderam experimentar.
Ricardo Triães é o diretor do Laboratório de Conservação e Restauro em Materiais Cerâmicos e a pergunta que fez logo à partida revelou o espírito audaz que quis fazer sobressair junto dos participantes: “querem sujar as mãos?” A resposta afirmativa foi rápida e unânime: é pondo mãos na massa que se aprende melhor e os nossos jovens sabem bem isso.
Como explicou, “a perspetiva de Conservação e Restauro é dupla”: por um lado, tem em atenção as preocupações artísticas; pelo outro, existem considerações científicas incontornáveis na abordagem a qualquer objeto. Um dos objetos que pode apresentar foi um pedaço de mosaico romano, “certamente com mais de mil e quinhentos anos”, descoberto entre os detritos de construção de um edifício em taipa.
O exercício prático foi, então, a exemplo deste objeto, a elaboração de um mosaico, sendo que o primeiro passo é sempre “programar o mosaico, fazendo um desenho de esboço”. Só depois é possível começar a pintar as diferentes pedras que comporão o mosaico, encaixando-as nos locais designados. O resultado final ficou assim à espera de secar, prometendo revelar a capacidade artística desenvolvida na Tomar Emotional Academy.
Já no Laboratório de Serigrafia, o professor Luís Oliveira pode apresentar as várias técnicas de impressão em serigrafia, que, segundo este docente, “estão presentes em todo o lado”. Para mais, a serigrafia é uma técnica utilizada em diversas áreas e em diferentes materiais, “incluindo, por exemplo, os circuitos impressos que temos nos nossos computadores”.
Aqui, utilizando um verdadeiro “carrossel”, uma máquina de impressão de tela têxtil, foi possível fazer uma impressão em t-shirt, com o logotipo do Politécnico de Tomar, depois de explicados os vários passos necessários para esta técnica.
Analisar pinturas para compreender os materiais utilizados e poder retirar daí variadas conclusões é um dos objetivos do estudo científico das obras de arte, conforme apresentado pelo docente António João Cruz. Um dos exemplos usados foi o de um estudo dos Painéis de São Vicente de Fora, da autoria do pintor régio Nuno Gonçalves.
“O efeito do dourado foi conseguido apenas com um pigmento amarelo, o dourado de chumbo e estanho”, explicou o professor, enquanto mostrava imagens obtidas em microscópio das diferentes camadas de tinta. A conclusão que foi possível tirar deste estudo foi que “com poucos pigmentos, Nuno Gonçalves consegue obter uma grande variedade de cores”.
Outro estudo que pode apresentar foi elaborado por ocasião do centenário do pintor Silva Porto, altura em que foram analisadas cerca de quarenta obras. No caso deste pintor, por exemplo, já foi encontrada uma grande variedade de pigmentos. No entanto, “Silva Porto usava, para pintar o céu, o pigmento azul cobalto, que surgiu no século XIX graças aos avanços da química” em todas as pinturas ao longo da sua carreira, bem como um determinado pigmento para obter o verde vegetal. Com esta informação, por exemplo, foi possível identificar duas pinturas como falsificações de Silva Porto, uma vez que estes pigmentos que Silva Porto utilizava consistentemente não foram identificados.
A análise por espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier é o domínio do professor Vítor Gaspar, que pode explicar como a radiação infravermelha, ao atingir uma amostra, é parcialmente absorvida pela amostra e parcialmente transmitida através da amostra. O resultado é “como se fosse uma «impressão digital»” daquele material, que se encontra numa base de dados com inúmeras substâncias existentes no nosso planeta. Esta técnica é “utilizada em investigação científica e em ambiente escolar, mas também é utilizada pela indústria”, para compreender que materiais compõem determinado objeto.
No Laboratório de Construção Civil do IPT, o ambiente estava a meio caminho entre um estaleiro de obras e uma sala de aula. O objetivo daquele laboratório é precisamente esse, como explicou o responsável deste espaço, Rogério Sousa. Como referiu, “todos os edifícios têm patologias, isto é, têm falhas”, que surgem nos elementos mais fracos ou sensíveis de uma construção, podendo surgir por questões da conceção do edifício, ainda durante a construção ou devido à idade do edifício.
A fotografia, nomeadamente com recurso à fotografia termográfica, é, como explicou Rogério Sousa, “um suporte para a identificação e a análise destas patologias”. Com a ajuda do técnico Pedro Costa, o desafio para os participantes foi identificar e fotografar algumas patologias dos próprios edifícios do IPT, com recurso aos telemóveis dos próprios elementos de cada grupo.
Já nos últimos momentos da Tomar Emotional Academy, Susana Domingos veio animar os participantes, começando por interagir com estes com uma enorme bola de pilates que foi passada de mão em mão, “para vocês estarem com energia”. Energia necessária para puxarem pela cabeça, uma vez que o desafio seguinte foi o de responderem a uma pergunta sobre os restantes participantes: cada um deles tinha um papel colado nas costas, com a pergunta “quem fui eu aos olhos dos outros?”, para que os demais pudessem descrever aquela pessoa. De “bué fixe” a “funny”, passando por “grande personalidade” e “simpática”, o marco foram as fortes amizades que este grupo desenvolveu em tão poucos dias.
A expetativa aumentou quando a professora Cecília Baptista, diretora da Escola Superior de Tecnologia do IPT, veio anunciar os resultados do já mencionado concurso de fotografia. Começou logo por dizer que “as fotografias foram todas fantásticas” e que, por haver tantas fotografias bem cotadas, o júri tinha até decidido atribuir quatro menções honrosas. A grande vencedora foi Diana Tashkulova, com uma fotografia intitulada Lâmpada do Fotógrafo, captada na Casa-Estúdio Carlos Relvas, na Golegã.
Lâmpada do Fotógrafo, fotografia de Diana Tashkulova, vencedora do 1º prémio do Concurso de Fotografia da Tomar Emotional Academy 2023.
Para encerrar a Tomar Emotional Academy, o Presidente do IPT, João Coroado, fez questão de conversar um pouco com os participantes. Manifestou, claro, o desejo de que “sejam embaixadores daquilo que experienciaram aqui no Instituto Politécnico de Tomar”, mas não deixou de referir a importância “daquilo que vos fica para a vossa vida futura: os contactos, a camaradagem, as redes de amizade”.
A Tomar Emotional Academy despede-se assim da cidade templária e do IPT, somando já as saudades às emoções de todos os seus participantes. Quem sabe o que o destino lhes reserva, mas fica a certeza de que terão sempre Tomar!